Enquanto a verticalização das grandes cidades brasileiras está a todo vapor – o município de São Paulo acaba de registrar, pela primeira vez na história, mais residências em prédios do que em casas –, uma startup vem conquistando milhares de clientes que pensam em seguir pelo caminho oposto. Fundada em janeiro de 2020 pelo engenheiro Vinícius Motta, de 28 anos, Diego Carielo, 28, e o engenheiro de software Filippe Holzer, 36, a Minha Casa Financiada já intermediou até hoje R$ 1,6 bilhão em financiamentos imobiliários para aquisição de lotes e construção de residências em todo o país, oferecendo uma economia de até 50% se comparada à aquisição de um imóvel pronto.
Muitos engenheiros ganham a vida construindo casas. Com o dinheiro da primeira, constroem outras duas e assim por diante. O modelo de negócio da Minha Casa Financiada surgiu desse método trivial, replicado por Vinícius ainda na faculdade de engenharia. Por outro lado, ganhou escala resolvendo dores bem conhecidas de quem já optou por construir do zero a própria casa: o acesso ao dinheiro, a burocracia e a dificuldade de achar mão de obra qualificada para projetar e executar a construção.
A primeira grande sacada do jovem engenheiro foi construir as casas sem que ele e o cliente precisassem de muito dinheiro. Para isso, recorreu às linhas de crédito da Caixa Econômica Federal para Aquisição de Terreno e Construção e Construção em Terreno Próprio. “São modalidades de financiamento muito pouco disseminadas no Brasil e que se encaixam perfeitamente para essa atividade da construção civil. Do lado do cliente também é ótimo, pois ele só começa a pagar o financiamento depois que o imóvel está pronto para morar”, explica Vinícius.
Ao mesmo tempo em que os projetos ficavam numerosos, o engenheiro conheceu o sócio Diego Carielo, que em 2018 avançava com sua plataforma de venda de cursos online. “Quando Vinícius me contou o que estava fazendo, o convidei para estruturar um curso que ensinasse outros profissionais a replicarem o método de construir casas sem tirar um tostão do bolso”, conta Diego. Estava dado o primeiro passo para a criação da Minha Casa Financiada.
E foi estruturando as campanhas de marketing para promover o curso que os sócios perceberam o valor do negócio que tinham nas mãos. “O que era para gerar engajamento com construtores estava dando retorno muito maior entre as pessoas interessadas em construir suas próprias casas”, revela Diego.
Desde esse momento, os sócios concentraram esforços em unir as duas pontas do processo, fazendo da Minha Casa Financiada o marketplace ideal para pessoas conseguirem a aprovação de seus financiamentos, contando com o suporte de uma equipe dedicada em auxiliá-las com toda a documentação requisitada pela Caixa e outros bancos e oferecendo uma rede nacional de construtores treinada pela própria plataforma para executar as obras.
Crescimento acelerado
O crescimento da plataforma tem sido intenso. Em menos de dois anos de operação, a Minha Casa Financiada faturou R$ 27 milhões – a proptech se paga cobrando dos construtores (em sua maioria engenheiros e arquitetos) uma comissão de 1% sobre o valor total do crédito aprovado com o cliente final, além de um take rate do financiamento oferecido pela Caixa Econômica Federal ou por outro banco parceiro. Atualmente, o volume de crédito intermediado pela startup para construção de casas representa 46% do total da modalidade no banco público, que detém 98% dessa linha de crédito no Brasil.
“São mais de 4.200 famílias das classes A, B e C atendidas até hoje. Então não estamos só realizando os sonhos das pessoas, como também atacando o problema de déficit habitacional do nosso país”, conta Vinícius. Segundo os sócios, os financiamentos começam a partir de R$ 80 mil e podem superar os R$ 3 milhões.
Entre os desafios de curto prazo estão triplicar a base de construtores conectados à plataforma, hoje em 3 mil, e alcançar, até o final de 2021, a meta de R$ 2,5 bilhões em crédito para aquisição de lotes e construção de casas.