Estudo prevê mudanças no modelo de negócio dos shoppings centers

Segundo a consultoria Alvarez & Marsal, espaços mostram sinais de recuperação após a crise sanitária e investem na omnicanalidade.

Para sair do sufoco gerado pela pandemia do COVID-19, de acordo com análise da A&M, shoppings se tornaram hubs de distribuição de última milha e aprimoraram a estratégia da omnicanalidade. Levantamento de mercado¹ prevê que o comércio omnichannel cresça 30% até 2025 no Brasil e as vendas nessa modalidade passem a representar 43% do total das vendas do varejo nesse mesmo ano. Mas mesmo com o crescimento do e-commerce, as vendas na loja física continuarão sendo importantes no ciclo de compra, e irão representar 82% das vendas totais até 2025.

Sobre a utilização dos shoppings como hubs de distribuição de última milha, as lojas servem de ponto logístico e como opção de compra presencial e recebimento em casa, ou vice-versa. Além disso, os serviços de entrega ultrarrápida (menos de 2 horas) só são possíveis hoje a partir da utilização da infraestrutura dos shoppings.

Quanto a estratégia de omnicanalidade, a Iguatemi e Aliansce Sonae já criaram plataformas online de vendas das marcas das suas redes – “Iguatemi 365” e “Shopping Online”, respectivamente, que oferecem disponibilidade de entrega em casa, na loja física ou via drive thru. Com a plataforma, a Iguatemi conquistou novos clientes, com 47% das vendas provenientes de cidades que a companhia não possui nenhum shopping.

Com o fim das barreiras impostas pela pandemia de covid-19, de acordo com levantamento realizado pela A&M, os shoppings já mostram sinais de recuperação da crise, dando indícios de que o setor pode caminhar na contramão das preocupações de mudança de hábito e da substituição dos shoppings pelo e-commerce:

  • Nos dois primeiros trimestres de 2022, todos os grandes players do setor apresentaram crescimento nas vendas, quando comparado ao mesmo período de 2019. A Iguatemi, por exemplo, apresentou vendas 15% e 30% superiores. Da mesma forma, Multiplan apresentou o mesmo índice 14% e 28% maiores. Já a brMalls, no primeiro trimestre mostrou vendas 5% superiores ao mesmo período de 2019, e a Aliansce Sonae, 9%.
  • Em termos de aluguéis, a receita do primeiro trimestre de 2022 também superou os valores de 2019, com destaque para Multiplan com 49% de crescimento.

A A&M enxerga que o próximo passo é a utilização dos espaços dos shoppings de forma híbrida, se transformando em empreendimentos multiuso, integrando torres comerciais, residenciais, hotéis e nova gama de serviços e entretenimento.

  • Nesse sentido, os complexos multiusos combinam a necessidade dos dois lados, a praticidade para o morador/executivo/turista de uma rede de serviços e entretenimento, e o fluxo de pessoas ao centro comercial.
  • Além da relação de aumento de fluxo de consumidores, há também a simbiose no degrau acima entre administradoras de shoppings center e incorporadoras. As administradoras realizam a permuta dos terrenos de seus shoppings que ainda possuem potencial construtivo em troca de parte dos projetos, e as incorporadoras passam a incorporar em um terreno em posição estratégica. Dessa forma, ambas empresas ganham valor e relevância de mercado.
  • No Brasil, os empreendimentos multiuso ainda são mais tímidos e de menor porte em relação aos dos EUA, que se portam como minicidades. De acordo com dados da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), 28% dos shoppings do país já integram um complexo multiuso
  • Em São José dos Campos (SP), por exemplo, o complexo multiso fundado pelo Grupo Colinas acaba de lançar a Colinas Green Tower, um edifício empresarial de 26 andares que conta com 144 salas comerciais, lajes corporativas e heliponto homologado para aeronaves de grande porte, totalizando investimentos da ordem de R$ 180 milhões. O espaço também conta com o Colinas Shopping e o Hotel Golden Tulip. Até 2024, o complexo ainda ganhará cinco novas torres residenciais com empreendimentos da MVituzzo e RDC.
  • No início de 2022 a brMalls assinou um acordo com a Vitacon para desenvolver prédios residenciais e centros médicos nos terrenos de seus shoppings. O acordo prevê o lançamento de 20 torres em sete dos shoppings, a partir de 2023. Os apartamentos serão de 25 a 110 m², com valores de R$ 8mil/m² a R$ 10mil/m², totalizando um VGV de mais de R$ 2 bilhões.
  • Enquanto por aqui ainda são feitas adaptação ao multiuso, como a implementação de torres residenciais e comerciais a shoppings já existentes, nos EUA, os projetos são originados com o conceito mixed-use. Isso se explica, provavelmente, tanto pela demanda do mercado quanto pela disponibilidade de recursos para que incorporadoras façam esses tipos de empreendimentos, bem como o cenário macroeconômico do país.
  • Aventura Parksquare: Inaugurado em 2018 e também localizado em Miami – Flórida, abriga um conceito de minicidade. O complexo contempla unidade residenciais, salas comerciais, hotel, lojas, restaurantes, em cinco diferentes torres.
  • Miami World Center:  um dos maiores empreendimentos mix-used dos EUA, com 4 torres residenciais, um hotel Marriot com 1700 quartos, um prédio corporativo de 45 andares e mais de 40mil m² de área de varejo, com mais de 40 lojas e opções de entretenimento. Está previsto para ser inaugurado ainda em 2022.
  • Related Santa Clara: Considerado o maior projeto mixed-use do Vale do Silício, começará a ser construído ainda em 2022. Em Santa Clara, o complexo contará com 530 mil m² de área comercial, 60 mil m² de área destinada a varejo e entretenimento, além de um parque, 700 quartos de hotel e 1700 unidade residenciais.
  • Embora as administradoras de shoppings center já tenham iniciado a busca pela implementação de complexos multiusos em seus shoppings, a A&M mapeou desafios que deverão encontrar:
  • Sustentabilidade, integração à natureza e sinergia com o entorno, trazendo uma proposta de reurbanização. Isto é, ter uma arquitetura que permita a integração com o ambiente externo para fortalecer todo o conceito de “experiência” ao ser um usuário do complexo.
  • Implantação de Flagship Stores: lojas conceito com experiências de compra insubstituíveis, modernas e inovadoras para mostrar ao consumidor que o empreendimento é um palco para as marcas se conectem aos clientes.
  • Incorporação do conceito de ESG e acessibilidade: facilidade de acesso aos empreendimentos tanto via transporte particular quanto público.
  • Serem capazes de oferecer um mix de serviços: desde operações tradicionais até inovações – hub de saúde, complexo de lojas e consultórios médicos, torres comerciais, hotel, restaurantes etc.

Nota 1: Relatório da Euromonitor “El futuro de retail 2021-2025”