Desafios dos condomínios no cenário da mobilidade elétrica

Por Rodrigo Aguiar, sócio-fundador da Elev

A mobilidade elétrica não é só mais uma tendência de futuro para o transporte urbano, mas sim a realidade atual do segmento. E não precisamos ir muito longe para perceber a expansão desse mercado. De acordo com a Anfavea, até 2035, mais de 60% dos novos veículos brasileiros serão elétricos. Digo mais, segundo os registros da Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores do Ministério da Infraestrutura), só até o mês de novembro, foram mais de 30 mil emplacamentos de veículos elétricos no país.

A eletrificação dos meios de transporte transpõe as evoluções tecnológicas do mercado, já que, nesse sentido, é uma necessidade presente e intrinsecamente ligada principalmente à preservação do meio ambiente, do planeta e dos seres vivos. Entretanto, o Brasil ainda precisa passar por processos de melhoria de infraestrutura para que o mercado possa se consolidar de vez, em especial no que tange o preparo dos condomínios para receber uma alta demanda de recarga.

A cidade de São Paulo já voltou os olhares para essa necessidade e de acordo com a lei municipal Nº 17.336, já é obrigatório que novos prédios residenciais e comerciais apresentem soluções para o carregamento dos eletrificados. Isso mostra o quanto o mercado vem conquistando espaço, já que o principal ponto de carregamento de quem possui um elétrico é em casa, em especial quando consideramos que as baterias estão ganhando cada vez mais autonomia, o que torna possível passar dias sem carregar o carro.

Como já é claro que condomínios comerciais e residenciais não possuem infraestrutura para esta nova demanda, o primeiro passo para essa adaptação é traçar um plano diretor que tenha como objetivo encontrar soluções para a implantação, entendendo a necessidade do condomínio de instalar os carregadores para que, possa ser atendida a necessidade adequada da demanda desse novo sistema de mobilidade. Um exemplo, é que nem sempre é preciso colocar diversos pontos de carregamento imediatamente, isso vai de acordo com cada caso. Isso reforça o fato de que, na maioria das vezes, não é obrigatório um alto investimento logo de início.

Indo além da questão de preparo da infraestrutura dos condomínios, outros pontos ainda geram muitas dúvidas entre os moradores, como quem paga pela conta quando o vizinho carrega o carro ou ainda quem vai arcar com os custos da instalação. Entretanto, uma discussão que precisa ser feita antes disso é que os pontos de carregamento hoje se tornaram um diferencial e item de valorização dos imóveis, portanto cabe pensar na questão e em um planejamento de ações.
Todos esses temas são pontos e questionamentos reais, porém, devemos lembrar que a adaptação não precisa ser imediata, pois faz parte de um processo contínuo e necessário desta transição.

Em especial quando olhamos dados do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), que revelam que 25% de toda emissão de carbono no planeta são frutos da mobilidade urbana – que utiliza motores à combustão. Também, segundo o Acordo de Paris, nos próximos 100 anos, precisamos do máximo esforço para evitar que a temperatura do planeta aumente em 1,5ºC. Caso não seja cumprida, as consequências desse aumento podem ser catastróficas, com efeitos diretos para o próprio futuro da humanidade. O agravante é que parece que o planeta não concorda com estes 100 anos e efeitos já estamos sentindo atualmente, mostrando que nossas ações não podem aguardar mais tempo.

Repito que a mobilidade elétrica é mais que uma tendência de mercado, pois, ao medir os impactos, ela se torna uma questão de sobrevivência. A adaptação dos condomínios é, apesar dos desafios, mais uma parte do processo. Como diz o provérbio: “Até uma jornada de mil milhas, começa com um passo”.

*Rodrigo Aguiar é sócio-fundador da Elev. Profissional com mais de 25 anos na área de Eficiência Energética, Rodrigo implantou mais de 1500 projetos em todo país nos setores industrial, comercial, serviços e público. Em seu currículo tem passagens em entidades como PNUD, IFC, BID e GIZ, todos como consultor em estudos sobre o mercado elétrico, além de ter estado à frente de posições como diretor do departamento de energia da DEINFRA da FIESP – Federação das Indústrias de São Paulo e Diretor Comercial da AGES Consultoria, além de presidente da ABESCO – Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia.