Por Paola Noguchi
Mudanças no estilo de vida das pessoas em todo o mundo estão transformando o jeito de morar, trabalhar e consumir. Estamos em pleno processo “revolucionário” no nicho de real estate. Tendências que surgiam há três anos, por exemplo, já se consolidaram. Muitos atribuem essas mudanças à crise financeira mundial. Particularmente, vejo duas gerações empurrando e exigindo mudanças para ontem: os millennials e os 65+. A urgência de viver de forma mais dinâmica e com qualidade de vida é combustível farto para acelerar a adoção de novos hábitos e comportamentos de consumo.
Vale lembrar que ambas as pontas tem – e terão – poder econômico para pressionar em curto e médio prazo. No Brasil, o percentual de pessoas com mais de 65 anos passará dos atuais 9,2% para quase 30% em 2050. Os millennials já são 20% da população mundial. E eles querem continuar usufruindo das vantagens dos grandes centros urbanos e ter todas as suas necessidades ao alcance das mãos com serviços, infraestrutura e bem estar.
O sucesso dos negócios de economia colaborativa há alguns anos e a recente uberização dos serviços, demonstra que o poder de transformação atual tem a velocidade da luz quando olhada no contexto da história do mercado imobiliário mundial. Coliving, Student Housing, Sênior Living, Coworking, Self Storage, Condomínios Logísticos, Empreendimentos Mixed Use e Moradias Multifamily já são realidade nos projetos de arquitetos e engenheiros e sua implementação com tecnologias sustentáveis é amplamente abordada pela indústria da construção. Falar de espaços compartilhados, por exemplo, já é senso comum.
Essa “revolução” está calcada em estudos científicos e não se caracteriza apenas como uma onda de mercado. Com a expectativa de vida aumentando para todos, é mais comum mudar de trabalho, de cidade e de estilo de vida. Arriscar novas carreiras, empreender, experimentar e criar novas possibilidades em diversos cenários é uma opção fáctivel. Pesquisas revelaram que nos últimos cinco anos o mundo do trabalho para freelancer deixou de ser tendência para se tornar o modus operandi em várias áreas. Um exemplo é um estudo feito no Chile em que a média de tempo de serviço de um colaborador em uma empresa era em torno de quatro anos. Já com a geração dos millennials, essa estatística caiu para dois anos. Por essa razão, existe mais necessidade de aluguéis e menos compra e venda de casas. Assim como espaços de trabalho com a mesma flexibilidade, amplas áreas comuns para incentivar a colaboração, criatividade e inovação.
Esse cenário também traz a exigência por maior mobilidade urbana e a opção por empreendimentos que estejam apoiados em conceitos de sustentabilidade do planeta. Neste sentido é quase unanimidade a opinião de que a tecnologia muda totalmente a forma como os ativos imobiliários tem que ser utilizados. Especialistas apontam que hoje o uso do ativo imobiliário é quase mais importante do que a própria propriedade.
Depois de inúmeros ciclos econômicos que revezam altos e baixos nesse nicho, as transformações na forma de viver e o encontro dessas duas gerações parecem estar nos levando para um novo patamar. Um lugar onde existe mais espaço – literalmente – para o “ser” do que para o “ter”. E apesar da área estar classificada como tradicional, o real estate atua com criatividade e dinamismo para captar as demandas que se apresentam. Construir, requalificar e encontrar novos usos para imóveis continua em alta e exige ainda mais conhecimento técnico e feeling. Estamos em uma fase de grandes desafios, mas também de otimismo e soluções surpreendentes para compartilhar. Como profetizou o poeta curitibano Paulo Leminski: “Isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além”.
:
Paola Noguchi , Diretora executiva da DCL Real Estate