Pesquisa de maturidade BIM (Building Information Modeling) contou com a participação de 478 profissionais da indústria da construção brasileira de todos o País
O Sienge, maior ecossistema tecnológico da indústria da construção no Brasil; a Grant Thornton, uma das maiores empresas globais de auditoria, consultoria e tributos; e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) acabam de realizar a segunda edição da pesquisa de maturidade BIM (Building Information Modeling), com o objetivo de verificar se houve incremento na utilização dessa metodologia pelas companhias brasileiras.
Um dos principais resultados apurados diz respeito à autoavaliação sobre o nível de maturidade na utilização do BIM. A maioria dos pesquisados se classificou nos níveis iniciais de maturidade, totalizando 59,42% nos níveis 0 e 1, nos quais a informação é produzida basicamente com desenhos CAD 2D e 3D e os arquivos de projetos são compartilhados digitalmente, no entanto, não há um modelo unificado para o gerenciamento de informações.
No nível 2, que significa utilizar e compartilhar modelos BIM de maneira unificada por meio de um ambiente integrado, com informações 4D e 5D disponíveis, encontram-se 21,55% das empresas e apenas 2,51% das respondentes se colocam no nível 3, o mais avançado no processo de integração total, que inclui também a aplicação e o gerenciamento de informações relacionadas ao ciclo de vida do ativo.
Com relação às dificuldades para utilização do BIM, os principais temas apontados foram a falta de capacitação dos profissionais (48,1%), seguida pela inexistência de processos adequados para adoção da metodologia (45,4%) e pela falta de incentivos financeiros para a capacitação dos funcionários (33,5%). São as mesmas barreiras identificadas na primeira edição da pesquisa em 2020.
Vale ressaltar, ainda, que um número considerável de respondentes (17,2%) afirma que a falta de interesse por parte da alta gestão da organização é uma barreira importante na implementação BIM.
No que se refere à qualificação profissional, ou seja, se existem pessoas aptas a trabalhar com ferramentas BIM na organização, 58,16% afirmaram que apenas alguns funcionários possuem os conhecimentos necessários e 26,57% responderam que não dispõem de pessoas qualificadas para o uso das ferramentas BIM. Esses índices mostram que o conhecimento ainda é pouco difundido entre todos os profissionais envolvidos no processo, fato que se contrapõe à natureza colaborativa da metodologia BIM.
Software e Hardware
A aplicação da tecnologia foi outra questão abordada na pesquisa, cujos resultados mostram que os softwares para modelagem 3D e compatibilização/detecção de conflitos das disciplinas de projeto são os mais utilizados no segmento, confirmando o estágio inicial do nível de maturidade indicado pela maioria dos respondentes.
“A indústria da construção no Brasil ainda atua de forma muito analógica, o que dificulta o impulsionamento do setor. Mais importante do que reconhecer a necessidade de usar softwares, é entender a integração entre eles. É essa conexão que potencializa uma atuação assertiva e apoia empresas e profissionais para que saiam do nível inicial de maturidade para patamares mais elevados”, argumenta Guilherme Quandt, diretor de Marketing e Estratégia do Sienge.
No componente hardware, a grande maioria das organizações (63,6%) declara que está preparada com os equipamentos necessários à utilização de softwares BIM. Quase 20% afirmam que a organização possui poucos ou nenhum equipamento adequado e 9,4% dos entrevistados dizem não ter equipamentos com configurações de hardwares apropriadas, mas que há perspectiva de implementação em até 1 ano, enquanto 7,53% indicam não possuir equipamentos adequados, mas que há perspectiva de implementação de 1 a 3 anos.
Pessoas
A principal barreira apontada pelos pesquisados — falta de capacitação dos profissionais (48,1%) — diz respeito à falta de treinamento ou incentivo a cursos por parte das organizações, representada por 44,3%. Apenas 17,45% afirmam que as organizações promovem treinamentos/workshops internos e ainda apoiam/financiam cursos para seus funcionários. Além disso, é interessante destacar que, das 44,3% das organizações que não oferecem treinamentos ou incentivos aos funcionários, 84,6% não avaliam internamente proficiência dos funcionários sobre BIM.
Processos
Sobre a existência de um ambiente comum de dados (CDE) que possibilite o trabalho colaborativo, com interoperabilidade de dados, 46,23% responderam que ainda não utilizam qualquer CDE na empresa e 21,55% afirmaram ter um CDE, mas sem interoperabilidade de dados e sem gestão entre os modelos. Somadas, estas porcentagens ultrapassam os 67% dos pesquisados que não usam efetivamente um CDE, que é considerado o coração de uma implantação bem-sucedida do BIM, capaz de gerar grande valor de fato no processo construtivo.
“As empresas adotaram um roadmap de implementação do BIM mais orientado à utilização de tecnologia, capacitando de forma pontual o nível de coordenação, com baixo índice de estruturação, tanto no planejamento da implementação com metas, objetivos e benefícios esperados — identificados de forma clara e mensurável –, quanto nos processos necessários para o BIM. Haja vista que somente 2,51% das organizações se classificaram como nível 3 de maturidade, que indica consolidação da colaboração, uso do 4D e do 5D”, avalia Erico Giovannetti, sócio de Consultoria Empresarial da Grant Thornton Brasil.
A respeito da compatibilização de projetos, 33,6% afirmam não fazer ou acompanhar os processos de detecção de conflitos e/ou interferência no modelo BIM; mais de 24% dizem que esses processos são feitos ou acompanhados regularmente e apenas 6,7% dizem não utilizar tais processos por não serem necessários para o tipo de serviço prestado com BIM pela organização.
Sobre a existência de bibliotecas BIM na organização, a maioria (37,6%) diz não haver uma biblioteca disponível para uso interno. Quase 30% afirmam ter uma biblioteca BIM, mas que não está alinhada aos padrões internos de qualidade. Apenas 19% dizem possuir uma biblioteca com muitos templates e padrões adequados aos processos internos. “Vale ressaltar que a existência de bibliotecas BIM é uma importante característica do nível de maturidade do ecossistema e aumenta significativamente a produtividade no desenvolvimento e modelagem de informações”, afirma Leonardo Santana, analista de inovação e produtividade da ABDI.
Quanto aos procedimentos relacionados ao BIM, 27,8% dizem não haver processos específicos para BIM em suas organizações. Parcela similar (26,9%) afirma que nem todos os funcionários detêm conhecimento e acesso aos processos existentes e quase 12% declaram que todos os funcionários têm conhecimento e acesso aos processos BIM, e os utilizam no dia a dia.
Com relação ao Plano de Implementação BIM (BIP), a pesquisa mostra que apenas 15,48% das organizações já possuem o BIP estruturado e que 56,28% não têm o BIP e tampouco um prazo para sua estruturação. Outros 24,26% dos respondentes trabalham com uma previsão de estruturação: 12,97% com expectativa de estruturação em até 1 ano; 9,41%, de 1 a 3 anos, e 1,88%, com expectativa acima de 3 anos. Essa falta do BIP nas empresas, que demonstra a dificuldade na implementação do BIM, pode também refletir a ausência ou insuficiência de planos de negócios ou business cases, que demonstrem viabilidade financeira de forma sustentável para utilização do BIM.
Digitalização
Questionados sobre como a organização enxerga a interação do BIM com outras soluções tecnológicas da construção civil nos próximos anos, 70,25% dizem que se veem trabalhando com BIM, dos quais 37,2% afirmam não visualizar a integração do BIM com outras ferramentas da construção 4.0 (RA, RV, IA, IoT etc.) e 33% acreditam nessa integrarão BIM com outras tecnologias.
“Tais resultados corroboram a dificuldade de se criar planos de negócios que englobem tecnologias, sistemas e processos inéditos ou não testados em grande escala no cenário brasileiro. Por outro lado, também abrem janelas de oportunidades para que as organizações do setor adotem processos e metodologias ágeis para explorar as possibilidades de inovação” pondera Giovannetti.
Para o diretor do Sienge, o conceito de ecossistema é o caminho para levar a indústria da construção como um todo a outro patamar. “O BIM garante assertividade e previsibilidade, características essenciais para o desenvolvimento do setor. A partir do momento em que ele está conectado a um ecossistema tecnológico, é possível ter projeções claras e seguras sobre cada projeto, que se integram com diversos outros softwares especializados nas várias jornadas na construção. Isso pode gerar um crescimento exponencial sem precedentes no cenário brasileiro”, explica Quandt.
“As companhias precisam avançar de forma estruturada, buscando sempre a proporcionalidade entre gastos e benefícios esperados, com a simplicidade e a praticidade norteando o planejamento. Isto porque a utilização do BIM, cada vez mais, tem se mostrado um caminho sem volta”, finaliza Giovannetti.
Amostragem
Dos 478 pesquisados, 73,23% dos respondentes estão localizados nas regiões Sul e Sudeste do País: 34,94% em São Paulo, 10,04% em Minas Gerais, 9% em Santa Catarina, 8,58% no Rio Grande do Sul, 5,86% no Rio de Janeiro e 4,81 no Paraná. No Nordeste, Pernambuco foi o estado com maior número de respondentes (4,39%) e no Centro-Oeste, o Distrito Federal (2,72%).
A pesquisa confirmou uma grande concentração da utilização do BIM na indústria da construção civil, especialmente em empresas que prestam serviços de engenharia, arquitetura, construção e gerenciamento, com destaque para mais de 60% de escritórios de projetos. As microempresas formam a maioria dos respondentes, que representam as lideranças das organizações.