Como será o mundo pós-pandemia é uma das questões que mais inquietam especialistas de vários setores. No que diz respeito ao mercado imobiliário, os impactos já revelam uma valorização da casa própria e necessidades que estão moldando tendências. Pesquisa divulgada pela consultoria Urban Systems, em parceria com as empresas de inteligência de mercado Prospecta e Brain, revela os principais itens apontados pelos clientes como primordiais na hora de escolher um imóvel.
Se antes muitas pessoas passavam mais tempo fora de casa, no trajeto ou no próprio trabalho, com a pandemia foi necessário ficarem reclusas em suas residências, compartilhando o espaço com a família ou outros moradores da casa. Segundo a pesquisa, desde o início da quarentena, 37% dos respondentes sentiram falta de ter um espaço para o home office, mesmo percentual que afirmou que gostaria de ter uma área para a prática de exercícios físicos. Para ter esses ambientes, a maioria dos entrevistados revelou que aceitaria reduzir outros no imóvel, como sala de estar (28%), área de serviço (27%) e sala de jantar (26%).
O reflexo disso é a procura por casas e apartamentos mais espaçosos. Para o presidente da Sancruza Imóveis, Evandro Negrão de Lima Jr., esses novos anseios já desenham mudanças no perfil de imóveis procurados pelos clientes. “Hoje percebemos que existe uma procura maior por imóveis que possam comportar escritório, área de lazer, varanda gourmet e quintal, por exemplo. Com o isolamento social, ficou evidente que ter esses espaços pode ser muito útil; as pessoas perceberam que vale a pena investir no lar e transformá-lo no melhor lugar possível”, explica. Além disso, 54% dos entrevistados da pesquisa disseram que vão continuar em home office depois da pandemia. No imóvel atual, 91% responderam que precisam ter até dois postos de trabalho, o que confirma a tendência pela ampliação das moradias.
Lima Jr. também afirma que a empresa observou que aquelas pessoas que ficavam em dúvida entre um apartamento que custava um pouco mais barato e um que tinha um preço um pouco mais elevado, mas era maior, mais confortável e possuía área de lazer ou varanda gourmet, acabaram optando pela segunda opção. A pesquisa confirma esse cenário: com o aumento dos pedidos de comida em domicílio (57% dos entrevistados pretendem manter a frequência de pedidos depois da pandemia) e com as pessoas fazendo mais refeições em casa (90% pretendem seguir com esse hábito depois da pandemia), a busca por varandas gourmet aumentou. O espaço é a preferência dos entrevistados (38%), seguido por ter uma cozinha americana integrada à sala (33%). A maioria não gostaria de ter que diminuir nada no imóvel para obter o espaço (25%), confirmando também a tendência pela procura por imóveis maiores.
Com isso, as empresas do setor estão investindo em lançamento que acompanhem as tendências e anseios do consumidor. É o caso da PHV Engenharia, construtora do segmento de alto luxo. “A localização continua sendo ponto principal, mas já percebemos a procura por espaços mais distantes, desde que sejam amplos e completos para as atividades do cotidiano”, afirma o diretor técnico da PHV, Marcos Paulo Alves. “Além da localização e do projeto como um todo, as pessoas passaram a olhar com mais cuidado para os detalhes que compõe o prédio e se o empreendimento tem condições de atender satisfatoriamente suas necessidades, mesmo em uma situação de confinamento por um período longo, como tem ocorrido na pandemia”, argumenta.
A necessidade de ampliação das medidas de segurança sanitária também desenha novas tendências para os negócios. Segundo o estudo da Urban Systems, 84% dos respondentes passaram a deixar os sapatos na entrada do imóvel por causa da pandemia e 88% passaram a higienizar as compras. Nesse cenário, 69% das pessoas disseram que gostariam de ter um espaço para higienização dentro do imóvel.
A pesquisa da Urban Systems também aponta que as novas tecnologias, principalmente as relacionadas à higienização, são o que as pessoas consideram mais importante ter no prédio onde moram. Metade dos entrevistados afirma que gostaria de ter elevador com botoeira “sem toque”; 38%, câmara de higienização na entrada; 26%, reconhecimento facial (mesmo percentual que respondeu automação para interação dos equipamentos com comando de voz) e 25% indicaram sensores de presença com alarme nos muros. “Percebemos, ainda, a busca por equipamentos direcionados a higiene e cuidados pessoais, como acionamentos dos equipamentos por sensores, central de delivery, coworking, câmaras de higienização, dentre outras”, complementa Marcos Paulo.