O Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) e a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) lançam, hoje, 03 de abril, em Brasília, o Roadmap Tecnológico do Cimento, um documento que traça a ambição e as diretrizes para contribuir para a redução da emissão de CO2 na indústria brasileira do cimento em dois cenários, sendo um primeiro estágio até 2030 e um segundo até 2050.
A indústria desenvolveu este roteiro em colaboração com a Agência Internacional de Energia (IEA), Iniciativa de Sustentabilidade do Cimento (CSI) do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), International Finance Corporation (IFC) – membro do Banco Mundial – e um seleto grupo de acadêmicos de renomadas universidades e centros de pesquisa do país, sob a coordenação técnica do professor emérito e ex-ministro José Goldemberg.
O estudo propõe alternativas para reduzir, ainda mais, as baixas emissões de CO2 da indústria nacional de cimento. Mais do que isso, identifica barreiras e gargalos que limitam a adoção de políticas públicas, regulações, aspectos normativos, entre outros, capazes de potencializar a redução das emissões em curto, médio e longo prazo.
“A indústria brasileira do cimento apresenta um dos menores índices de emissão de CO2 no mundo, por conta de ações que vêm sendo implementadas nas últimas décadas e queremos continuar liderando esse processo no futuro”, afirma Paulo Camillo Penna, presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) e da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).
Segundo dados dessas entidades, enquanto a produção de cimento aumentou 273% entre 1990 e 2014 (de 26 para 71 milhões de toneladas), a curva da emissão de carbono cresceu 223% nesse intervalo, uma redução de 18% das emissões específicas (de 700 para 564 kg CO2 /t cimento). Por sua vez, o projeto vislumbra a possibilidade de a indústria alcançar patamares da ordem de 375 kg CO2/t cimento até 2050, uma redução de 33% em relação aos valores atuais.
Segundo Erika Kanashiro Tugumi, executiva sênior de investimento da IFC, “o Brasil está no caminho certo para descarbonizar sua cadeia de valor do cimento, adotando melhores práticas em eficiência energética, uso de combustíveis alternativos, energia renovável, e produtos inovadores em cimento e concreto”.
O Roadmap Tecnológico do Cimento analisa uma série de medidas capazes de acelerar a transição rumo a uma economia de baixo carbono. “O setor reconhece os desafios na produção de cimento e concreto e tem trabalhado arduamente ao longo de muitos anos para encontrar soluções. Há várias inovações importantes já em andamento, que irão contribuir para reduzir as emissões globais de CO2 e produzir cimento de forma sustentável. Estamos totalmente comprometidos em avançar para um futuro sustentável”, afirma Claude Loréa, diretora da Associação Global de Cimento e Concreto (GCCA) e especialista em sustentabilidade na indústria do cimento.
Metas alinhadas ao Acordo de Paris
O Acordo de Paris, negociado em 2015 na 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e ratificado pelo Brasil em 2016, estabeleceu diretrizes e compromissos para tentar limitar o aumento das temperaturas neste século a menos de 2°C.
Para alcançar essa meta desafiadora, foram reunidas no mapeamento medidas que se concentram em quatro principais pilares: adições e substitutos de clínquer – produto intermediário do cimento -, por meio do uso de subprodutos de outras atividades; combustíveis alternativos, com a utilização de biomassas e resíduos com poder energético em substituição a combustíveis fósseis não renováveis; medidas de eficiência energética, mediante investimentos em linhas e equipamentos de menor consumo térmico e/ou elétrico; tecnologias inovadoras e emergentes, por meio da pesquisa e desenvolvimento em tecnologias disruptivas, como a captura de carbono.
Ações-chave para 2030
Para atingir os níveis de melhoria nos diferentes indicadores de performance (KPI’s) e as consequentes reduções na emissão de carbono estimadas, governo, indústria e sociedade em geral devem criar uma agenda conjunta de ações estruturantes, de forma a acelerar a transição sustentável da indústria brasileira de cimento. Entre as ações prioritárias, visando um horizonte de curto/médio prazo (2030), estão:
- Reforçar a cooperação nacional e internacional; promover o desenvolvimento de novas normas de cimento, permitindo a incorporação de maiores teores de substitutos de clínquer;
- Valorizar a recuperação energética de resíduos, em atendimento à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS);
- Compartilhar melhores práticas em nível nacional e internacional para a promoção da eficiência energética na indústria do cimento;
- Promover Pesquisa e Desenvolvimento em tecnologias emergentes e inovadoras de mitigação de gases de efeito estufa.