Crescimento em startups que olham para os imóveis não como um produto, mas como serviço, atraem consumidores finais e investidores, e projetam novas perspectivas para o mercado imobiliário
A notícia do aporte da Monashees, Terracotta Ventures, ONEVC e Tishman Speyer de R$ 56 milhões na Yuca, startup de aluguel descomplicado e coliving, chamou a atenção para o avanço de uma tendência moderna do mercado imobiliário: o Real Estate as a Service, ou Moradia como Serviço.
Amplamente utilizado em vários países do mundo, o REaaS ainda está dando os primeiros passos no Brasil, impulsionado pela necessidade de atender à crescente demanda pelas disrupções dos modelos de mercado convencionais: tratá-lo como um serviço e não como um produto. Esse modelo de gerenciar os imóveis tem sido visto com bons olhos não só pelo cliente final, que anseia por facilidade e experiência, mas também pelo investidores e donos de imóveis, pois possibilita um aumento no lucro concomitantemente com a redução nos gastos e responsabilidades inerentes ao negócio.
Segundo Marcus Anselmo, managing partner da Terracotta Ventures, primeira empresa de venture capital da América Latina voltada para o segmento de construtechs e proptechs, essa sigla não representa apenas um nicho de startups, ou uma parcela do ecossistema, ela representa uma remodelação do olhar para o mercado de imóveis. “Software as a service, transport as a service, platform as a service. Os consumidores e diferentes nichos do mercado construíram uma nova realidade, onde se busca por mais flexibilidade e acesso. Esse desejo não seria diferente na relação dos consumidores com imóveis, sendo assim, REaaS traz a tona modelos de negócios onde o cliente final possui acesso escalável a espaços e suas respectivas amenidades, de acordo com seus anseios e necessidades”, explica.
Isso funciona a partir da proposta de transitar de produto para serviço, de propriedade para acesso. É uma tendência geral de serviços de acordo com a demanda dos clientes. A mudança da velha relação entre locador e locatário é aprimorada para uma aplicação com valor agregado entregue por meio de plataformas modernas. Ou seja, o locador ao fornecer serviços para o locatário, consegue adaptar e reduzir custos por meio de um atendimento sob demanda. O locatário, por sua vez, tem acesso a múltiplos recursos em seu benefício, conseguindo reduzir os gastos com fatores satélites ao objetivo do uso do imóvel. “A virada de chave é a mudança de um mindset. Sendo assim, a abordagem passa a ser totalmente focada no cliente e em sua experiência, tendo em vista que está sendo oferecido um serviço ao consumidor”, reforça o executivo da Terracotta Ventures.
De acordo com Anselmo, diversos são os fatores que permitem a ascensão desta tendência. O primeiro deles é um mundo mais conectado, onde o sinal de internet está disponível para mais pessoas. “Além da conexão, existem também as mudanças relacionadas a menor distinção entre vida pessoal e trabalho, aumento do trabalho remoto, espaços físicos deixando de serem ativos principais e sendo ressignificados. E por fim, o aumento da economia de plataforma”, explica.
Os negócios que operam nessa nova abordagem são locais onde existem os espaços e serviços necessários para atender os diferentes jobs to be done de cada indivíduo, no momento em que ele sente essas dores. São exemplos dessa tendência negócios como coworking, coliving, senior living e diversos outros. Atualmente 2,9 milhões de pessoas vivem em colivings ao redor do mundo, em 2018 apenas no Brasil já existiam mais de mil coworkings sendo utilizados para prover um novo modelo de trabalho.
E é aqui que entram exemplos como a Yuca, que nasceu com a proposta de reformar e fornecer moradias compartilhadas, ou colivings. Recentemente, a startup também expandiu sua proposta para quem mora sozinho ou em casal e para a gestão dos imóveis. Na Yuca, todos os apartamentos são mobiliados e contam com um boleto único por morador que já inclui condomínio, IPTU, água, luz, internet, gás e limpeza semanal. Ela também fornece atendimento e suporte para a locação, incluindo eventuais consertos. Os aluguéis não pedem seguro fiança e os contratos começam em seis meses. “É a flexibilização do ativo imobiliário”, completa Marcus Anselmo
De acordo com Anselmo, nesse modelo fica clara a necessidade de que cada negócio entenda profundamente seu público a fim de moldar todo seu modelo com o objetivo de prover o espaço e os serviços que determinado público precisa. “Essa mudança não ocorrerá de forma repentina, ela já está acontecendo e continuará a acontecer nos próximos anos. Você pode observar a mudança onde você mora, com o nascimento e popularização dos coworkings, com os primeiros negócios de coabitação focados em estudantes, os student livings sendo criados”, afirma o executivo.
Para o especialista, o REaaS exige mais comprometimento dos provedores de serviços e também mais envolvimento em todo a jornada do cliente, desde o processo de vendas, continuando ao longo da experiência e se estendendo ao pós-venda. “Com base nisso, podemos afirmar que quem deseja obter sucesso precisa juntar tudo que conhece sobre o mercado imobiliário e adicionar muitos estudo sobre user experience”, destaca.