Como muitos outros setores que passaram por revoluções possibilitadas pela tecnologia, o mercado imobiliário se reinventou nos últimos anos, com o surgimento das chamadas imobiliárias digitais – que nasceram para tornar mais rápidos e ágeis processos antes conhecidos como lentos e desgastantes. Mesmo imobiliárias que não nasceram digitais têm tentado se transformar para acompanhar as tendências do segmento: com um público acostumado a fazer tudo de casa e a resolver problemas com poucos cliques, é difícil permanecer relevante no mercado de forma “analógica”.
As imobiliárias digitais são aquelas que permitem que o cliente faça online da escolha do imóvel à assinatura dos documentos, passando pelo acompanhamento das vistorias e pela contratação de seguros.
“A concorrência está cada vez mais acirrada, provocando uma real necessidade de se adaptar”, afirma Daniel Calmon, gerente de novos negócios do GrupoRV, empresa especializada em soluções imobiliárias. “Ter processos digitalizados, com base em tecnologia, se reflete em redução de custos; mas também, e principalmente, em mais agilidade, segurança, transparência, e uma melhor experiência para o cliente. Tudo isso virou uma obrigação para ser competitivo no mercado.”
A Lello Imóveis, de São Paulo (SP), que tem hoje cerca de 8,5 mil imóveis locados, já percebeu a necessidade de investir no processo de digitalização. “Ainda não digitalizamos tudo, mas estamos caminhando a passos largos”, conta Gisele Oliveira Costa, coordenadora de rescisão de contratos da empresa. “A maioria das locações já é feita com assinatura eletrônica, por exemplo; o que foi um ganho imenso na liberação dos contratos.” A companhia também já trabalha com vistorias feitas por profissionais especialmente treinados: “Antes perdíamos muito tempo fazendo a comparação nas vistorias de entrada e saída. O mercado também foi exigindo, com o tempo, que entregássemos um relatório mais completo.”
Lessiê de Souza Duarte, da URBS Imobiliária, de Goiânia (GO), especializada em imóveis de médio e alto padrão, diz que a digitalização fez a empresa ganhar em efetividade: “Otimizamos cerca de 90% dos processos, e com isso ganhamos mais tempo – o que é importante para todo mundo; para nós e para o cliente”, ela afirma. “O número de reclamações por parte dos clientes caiu consideravelmente.”
Digitalizar sem desumanizar
A Imóveis Crédito Real, de Porto Alegre (RS), é uma empresa bastante tradicional: a companhia tem 90 anos no mercado, e presença em 13 estados brasileiros. Luciano Oliveira da Silva, gerente de operações da empresa, conta como a imobiliária decidiu combinar tradição e modernização em função das exigências do mercado: “Temos uma cultura que muitas vezes é complexo mudar, mas estamos investindo em uma melhor experiência para os nossos clientes”, afirma. “Não em transformar a empresa em uma plataforma digital; mas em trazer tecnologia para que os clientes tenham mais conforto e melhorem sua experiência conosco.”
Daniel Calmon, do GrupoRV, destaca que “estar digitalizado não significa encerrar as operações no físico, e sim ter mais qualidade e agilidade em todos os processos.” Luciano, da Imóveis Crédito Real, exemplifica: “Fazíamos o serviço de vistorias de forma tradicional, então, no começo, ficamos com um pouco de medo por conta da novidade, de trazer esse recurso digital para dentro da imobiliária. Mas hoje estamos muito felizes com o retorno. No modelo tradicional, nosso custo operacional era oneroso, e o processo, lento. Tínhamos muita dificuldade em criar uma logística adequada para atender uma vistoria, que levava três ou quatro dias para ser feita. Hoje o laudo de vistoria traz uma robustez importante no processo de desocupação do imóvel e dá muita segurança para os proprietários.”
Serviços imobiliários na versão virtual
Imobiliárias que ainda atuam apenas de maneira tradicional vem incorporando a digitalização em diversas etapas do processo de aluguel: a busca pelo imóvel, por exemplo, agora é feita sem que o cliente precise sair de casa: há até mesmo imobiliárias que disponibilizam o chamado tour virtual, que permite “andar” por dentro do imóvel por meio de captação e disponibilização de imagens 3D. As vistorias de entrada e de saída, que garantem segurança no fechamento dos contratos, também são feitas com o auxílio de tecnologias, que geram relatórios enviados para todas as partes envolvidas.
A parte da documentação – normalmente uma das maiores dores de cabeça de proprietários e inquilinos – é automatizada por meio do recurso de esteira digital e do uso de assinatura eletrônica, que tem valor jurídico no Brasil desde 2002 e elimina as idas ao cartório para reconhecimento de firma. Por fim, a contratação de seguros (como o seguro incêndio, que é obrigatório na locação de um imóvel, e o seguro fiança, que substitui o fiador) também é feita online, com aprovação imediata.