Utilizada para a criação de modelos virtuais precisos das obras ainda em fase de projeto, a tecnologia BIM (Building Information Modeling) deve ampliar a produtividade no setor de construção em 10% até 2028, conforme projeção do governo federal. A partir de 2021, o uso do método será obrigatório nas obras públicas realizadas no país. A estimativa do governo é de que a BIM garanta uma redução de custos de 9,7% nas construções. Mas, conforme estudos contratados pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a queda nos custos pode ser ainda maior, chegando a 20% com o BIM.
O que ninguém tem dúvidas é que a tecnologia deve trazer ganhos em todas as etapas de uma obra. Segundo o consultor Tiago Ricotta, cada alteração feita em uma obra em razão de alguma falha ou problema de compatibilização custa em torno de R$ 3 mil para a empresa. “No varejo, você multiplica a quantidade de itens que você tem que corrigir na obra versus a quantidade de obras que você executa. Então, um cliente que abre 100 ou 200 lojas, se tiver 10 itens de R$ 3 mil para corrigir em cada obra, vira um valor astronômico. Às vezes, com o dinheiro de 10 obras, você faz 12 ou 13, mudando uma coisa simples lá atrás, no estudo”, afirma Rogério Moraes, CEO da Kemp, empresa de projetos e gerenciamento de obras.
Referência nacional na aplicação de BIM em projetos de engenharia, a Kemp promoveu um evento para tratar da aplicação da tecnologia BIM no setor varejista. Com a presença de representantes de mais de 20 clientes da empresa – entre eles Santander, Petz, Pernambucanas, Leroy Merlin, Lojas Americanas, Grupo DPSP, Grupo Fleury, Telhanorte, Extrafarma, Dasa, Centauro, C&A e Burger King –, o encontro contou com oito mesas, ao redor das quais os profissionais debatiam diversos temas relativos à implantação do BIM em suas respectivas obras.
“Tivemos a ideia de organizar um evento de BIM para o varejo, porque, na verdade, não existe um case de varejo – projeto e gerenciamento – de BIM”, explica Moraes. “Trouxemos mais de 20 clientes com as suas equipes da engenharia, cada um com um entendimento. Eram empresas que estão implementando o BIM, empresas que não estão. E criamos um debate técnico”.
A representante da Lojas Americanas, Doris Helena, que está na empresa há 33 anos, esteve no evento com o objetivo de entender como o BIM pode ajudar a companhia em sua meta de dobrar o número de lojas no país de 800 para 1,6 mil nos próximos anos. Já Letícia Mansur, da Leroy Merlin, afirmou que a empresa vem implantando o BIM há cerca de seis meses, com a ajuda da Kemp. “Começamos a implantar e um modo parcial. Fazendo em 2D e transformando em BIM para ver que surpresas a gente ia ter”, contou Letícia. “Neste primeiro projeto que a gente transformou em BIM, já conseguimos ver um ganho muito grande em compatibilização, em soluções para coisas que, na obra iriam virar soluções paliativas ou gambiarras, que a gente viu em projeto para já levar para a obra prontas.”
BIM já é realidade em vários países da América Latina, incluindo México, Chile, Argentina
O BIM é um conjunto de processos e tecnologias que permitem a representação digital das características físicas e funcionais de uma construção e o uso integrado de informações relativas a cada obra, desde a fase de projeto até a execução, chegando também à manutenção predial pós-obra e à demolição. A tecnologia já é largamente utilizada em países como Reino Unido, Estados Unidos, México, Canadá, Rússia, China, Portugal, França, Chile e Argentina.
Em maio do ano passado, o governo brasileiro lançou a Estratégia BIM BR. Coordenada pelo Ministério da Economia, a iniciativa conta com a participação da Casa Civil, da Secretaria de Governo da Presidência da República e dos ministérios da Infraestrutura, Defesa, Saúde e Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e do Desenvolvimento Regional, buscando promover a modernização e a transformação digital do setor da construção.