Por Marcus Granadeiro
Chegando no final do ano temos novamente a Caixa anunciando a redução da taxa básica de juros para o financiamento imobiliário. Com a medida, o setor de construção que já estava reaquecendo neste último trimestre ganhou um novo impulso. Hora de planejar 2020! Neste período, tradicionalmente as empresas preparam seu plano estratégico para o ano seguinte, uma atividade que é fundamental e todos os empresários entendem e executam.
Mas no setor da construção, há uma questão importante que não tem sido colocada: se é preciso planejar, por que a maioria das implantações de BIM (Building Information Modeling), que promove projetos e construções com mais qualidade, menos desperdício, retrabalho e, consequentemente menor custo, estão de certa forma descoladas dos planos estratégicos? E vale dizer: a adoção da plataforma BIM é tão importante que o Governo Federal, com a entrada do decreto n. 9.377, passará a exigir o uso dessa tecnologia a partir de 2021 em todo o âmbito nacional.
Não utilizar o BIM no planejamento estratégico de uma obra é uma observação empírica muito fácil de se constatar.Quase todas as implantações, independentemente do tipo de empresa, nascem e focam inicialmente na fase de projeto. Construtoras, incorporadoras, gerenciadoras, órgãos governamentais, varejistas, indústrias e até mesmo as projetistas fazem implantações nascendo com o projeto.
Não é possível que para todos eles a prioridade de foco seja o projeto e que a principal dor seja nesta área. Viabilidade, planejamento, produto, obra e operação não estão à frente do projeto para ninguém? Há certamente um descompasso entre as estratégias das implantações e as estratégicas de negócio nas empresas.
O motivo não é a cronologia. O processo não nasce na fase de projeto, mas sim antes, no qual o BIM poderia ser utilizado. Nestas implantações, os programas de necessidade continuam desassociados do processo BIM, seguindo do modo tradicional. Em grande parte dos players acima, esta fase inicial é bem mais sensível e envolve muito mais stakeholders internos, sendo que a fase de projeto é normalmente terceirizada.
O motivo não é ser o projeto necessário para implantar as demais etapas. Um exemplo seria de uma construtora que poderia definir um bom documento com requisitos para receber os projetos em BIM e focar sua implantação na fase de obra, nos controles tecnológicos, nos processos de mitigação de risco e no monitoramento remoto utilizando BIM.
A visão que tenho é que este descompasso tem como razão uma série de pequenos vetores. Eles vão desde o fato do projeto ser o elemento mais tangível, das iniciativas em BIM normalmente nascerem no departamento de projeto ou, até mesmo, pelo projeto ser o foco a ser atacado por decisão de marketing dos maiores fabricantes.
Este descolamento de visão se estende além da empresa e acaba prejudicando a velocidade da adoção do BIM no mercado. É muito comum ouvir queixas de que o cliente não quer mais pagar pelo BIM e, assim, se forma uma barreira objetiva para sua implantação.
Por um lado, temos o projetista, que utiliza o BIM para fazer detecção de interferências, reclamando que a construtora não quer pagar mais pelo BIM, sem entender que o projeto livre das interferências já era responsabilidade dele muito antes do BIM. Do outro lado está a construtora implantando BIM para otimizar o processo de orçamento e reclamando que o seu cliente não se importa com a tecnologia, sem perceber que não é esta a aplicação do BIM que ele teria interesse.
Este é um convite para uma reflexão: a sua estratégia de BIM está realmente alinhada com a sua estratégia de negócio?
Marcus Granadeiro, engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, presidente do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro da ADN (Autodesk Development Network) e do RICS (Royal Institution of Chartered Surveyours).