Por Hélio Mítica, Urbanista responsável pelos projetos de bairros planejados da Idealiza Cidades e sócio-fundador da AREAURBANISMO
Pensar a criação e a gestão dos espaços públicos do ponto de vista de quem vai utilizá-los é o aspecto mais importante para o sucesso das cidades. Um projeto bem planejado – quase feito à mão – pode promover a qualidade de vida, a coesão social, a saúde e a sustentabilidade urbana.
Historicamente no Brasil as cidades crescem sem planejamento e trazem múltiplos desafios para a população, como engarrafamentos, degradação urbana e desigualdade social. O espaço urbano possui muitas contradições em sua construção. Nas cidades são encontrados lugares totalmente distintos, social e espacialmente. De um lado, vemos espaços bem programados, com edificações de alto padrão, segurança, saneamento básico, entre outros, destinados a grupos privilegiados. Do outro, a realidade é oposta.
Quando se fala em medidas paliativas, ainda assim gestores criam intervenções a partir de ideias que não atendem aos anseios reais daqueles que vão de fato frequentar os espaços. Porém, estudos relacionados à qualidade de vida urbana têm se intensificado atualmente. Governos, ONGs, empresas e sociedade vêm se unindo em torno de objetivos comuns para tornar os espaços públicos mais democráticos e acessíveis para todos.
Essas iniciativas passam antes de tudo por entender quais são os desejos e necessidades dos grupos em questão. Bons espaços públicos precisam ser inclusivos, e, portanto, acessíveis. Devem ser seguros, bem iluminados, protegidos do trânsito de automóveis, com acesso a comércios e opções de lazer.
Novo urbanismo
Neste sentido, surge o novo urbanismo – um movimento de design urbano que promove hábitos ambientalmente amigáveis, com bairros e espaços que valorizam o deslocamento de pedestres, espaços ao ar livre e alternativas distintas de habitações e espaços comerciais. Tudo em sinergia.
O conceito nasceu nos Estados Unidos no início dos anos 1980 e tem influenciado gradualmente muitos aspectos do desenvolvimento imobiliário, do planejamento urbano e das estratégias de loteamento.
Os princípios podem ser aplicados desde um único edifício até uma comunidade inteira e se baseiam em mobilidade, conectividade, diversidade, variedade, ênfase na estética da arquitetura, maior densidade dos espaços, transporte verde, sustentabilidade e qualidade de vida.
Bom para todos!
O ideal é que os espaços públicos também sejam lúdicos e divertidos. Locais bons para crianças são assim para os adultos também. Precisamos de circulação, mas também de pontos de permanência, com sombra, água e mobiliário urbano de qualidade. Eles devem formar um grande sistema de espaços livres, adequados aos diferentes usos dos centros urbanos, sejam para encontro, circulação ou descompressão.
A intervenção urbanística deve carregar o propósito de proteger o meio ambiente e a sociedade do local, trazendo mais oportunidades e bem-estar a toda a rede envolvida. Precisamos de menos ‘ego-arquitetura’ e mais sócio-arquitetura’.