Por Rafael Salomão, Head de Varejo da Juntos Somos Mais
Agravados pela pandemia do Covid-19, existem hoje muitos desafios de habitação que a população brasileira enfrenta, sobretudo de quem vive em situação de vulnerabilidade social. Em contrapartida, segundo o Conselho Internacional da Construção (CIC), mais de um terço dos recursos naturais extraídos no Brasil são para as indústrias da construção e 50% da energia gerada abastece a operação das edificações. Esses dados destacam a importância do segmento, que cada vez mais tem se estimulado para a digitalização. Além disso, a construção civil movimenta 7% do PIB brasileira e emprega anualmente 2,5M de pessoas diretamente (de acordo com a Sienge – construtoras).
Ainda há muito a ser feito. Atualmente, os desafios vividos podem ser analisados do ponto de vista qualitativo e quantitativo. No déficit quantitativo, vemos 5,9 milhões de moradias que não teriam condições de serem adequadas aos moradores, com a necessidade de novas construções ou corretas adequações e, no viés qualitativo, há 24,9 milhões de moradias urbanas que já possuem algum tipo de inadequação, tornando-se impróprias para habitação, porém, com a possibilidade de adequação, incluindo condições desejáveis de moradia nelas. Hoje, no entanto, não há a priorização destes déficits, gerando uma complicação pública onde, no mundo ideal, a sociedade teria seu direito garantido.
Indo mais a fundo no assunto, 85,8% dos domicílios com déficit quantitativo estão localizados em áreas urbanas, especialmente nas regiões Sudeste e Nordeste. Isso corresponde a cerca de 5 milhões de moradias. Para completar, 85% da população de nosso País vive nas áreas urbanas, o que destaca a importância do direito à moradia e o seu bom estado. Hoje, infelizmente, são as áreas urbanas que concentram alguns dos mais graves problemas habitacionais, e para equacioná-lo será necessário focar na produtividade do setor. [o que não fecha a conta do direito social garantido pela Constituição].
Dito isso, quero também trazer boas notícias e apontar que o setor da caminha para enfrentar seus desafios de produtividade. [quero trazer para cá uma reflexão sobre como aproveitar de forma sustentável tudo o que o segmento tem a nos oferecer]. A Sienge nos aponta, de forma geral, que o ideal para aumentar a produtividade no setor, olhando também para a preservação do meio ambiente é: 1) reduzir o tempo construtivo, 2) padronizar atividades, 3) reduzir desperdícios de materiais e aumentar o controle sobre o estoque e 4) diminuir retrabalhos. Com um bom planejamento de construção e com um apoio de um ecossistema completo para trazer inovações à tona, essas dicas podem ser colocadas em prática em nosso País. Porém, o desafio é global. Um estudo da McKinsey indicou que nas duas últimas décadas, a produtividade na construção civil cresceu apenas 1% comparado com 2.8% na média e 3.6% quando se olha a indústria.
Porém, olhando para o copo “meio” cheio, trago boas notícias: a produtividade tem aumentado recentemente. A MRV Engenharia ressalta que, um prédio que demorava 180 dias para ser construído, agora se ergue em 60 dias. Em 2007, a construção de um apartamento exigia 11 operários. Em 2019, isso era feito com 4.5. No Brasil, o setor da construção como um todo é responsável por 50% da Formação Bruta de Capital Fixo e é o que mais gera empregos; para cada 10 empregos diretos, são gerados 5 indiretos. Estima-se que cada R﹩ 1,00 investido na construção civil gere R﹩ 1,88 na atividade. (fonte: Valor Econômico, maio de 2021).
Estamos no caminho certo. O Centro de Inovação em Construção Sustentável (CICS) da USP indica que a produtividade no Brasil é um quinto da americana e europeia. Temos que continuar a desenvolver e fortalecer a digitalização desse mercado, tornando todos os processos cada vez mais digitais, com segurança, rapidez, acessibilidade e simplicidade. E temos muito espaço para trazer essa inovação ao setor. Capacitações, treinamentos, inserção de produtos e serviços online, como e-commerces, são exemplos de atitudes que já podem acontecer. O uso do BIM no levantamento de materiais e na orçamentação da construção também pode ser feito. No Brasil, apenas 9,5% das empresas utilizam BIM. O BIM 4D inclui andamento da obra, o 5D inclui orçamento e o 6D entra na fase de gestão e manutenção.
A covid-19 acelerou em pelo menos três anos a adoção de tecnologias digitais no setor da construção, segundo estudo global realizado pela consultoria McKinsey. Que a tecnologia continue “viralizando” no setor de construção civil, pois só com inovação vamos garantir o acesso universal à moradia, além de trazer grandes benefícios a todos os envolvidos: profissionais, lojistas, varejistas, indústrias e, claro, os consumidores finais.