Por Eduardo Sampaio Nardelli
A transparência nas contratações de empreendimentos governamentais se tornou um imperativo para a redução do desperdício de dinheiro público e vacina contra a corrupção. A solução desse problema passa por diversas mudanças, mas a principal delas é a adoção maciça de tecnologia capaz de detalhar toda a obra e os custos envolvidos nesses processos.
Por isso, temos assistido a uma transformação radical na indústria da construção civil com o uso cada vez mais intensivo da tecnologia BIM (Building Information Modeling), traduzida como Modelagem da Informação da Construção. Ela permite a criação de modelos virtuais em 3D, com maior precisão do que as ferramentas atuais e possibilita prever toda a sua sequência com as diferentes etapas de execução.
O trabalho de projetar uma parede no BIM, por exemplo, não se limita a traçar as duas linhas paralelas que representam esse objeto. O profissional vai muito além da representação. No seu trabalho há a inclusão dos atributos estruturais, revestimentos, instalações, enfim, todas as características construtivas e de desempenho dessa parede. Nas grandes obras, é possível inclusive precisar o número de parafusos, tijolos, telhas, portas, maçanetas, enfim, todos os mínimos detalhes.
O BIM permite fazer uma simulação da obra, ou seja, o projetista pode antecipar a quantidade de argamassa, e até realizar ensaios de resistência a ventos, movimentos sísmicos, iluminação, conforto térmico e acústico. A ferramenta reduz os erros, interferências e retrabalhos. Assim, a construção diminui os desperdícios e resíduos, ampliando a transparência para as contratações das obras.
Esse estado da arte para a construção civil já é realidade, desde o início da primeira década de 2000, em países pioneiros nessa ferramenta como Finlândia, Noruega e Dinamarca. O BIM já é tratado como item obrigatório em construções de diferentes portes nessas localidades. Japão, Estados Unidos, Holanda e Reino Unido também estão na lista de países que têm exemplos bem-sucedidos do uso do BIM.
O Brasil também caminha nessa direção. O BIM ganhou destaque com o crescimento do mercado imobiliário brasileiro, no início da década passada, somado ao lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). Em 2008, foi criado em São Paulo um Grupo de Trabalho Interdisciplinar, unindo entidades representativas da cadeia produtiva da construção civil brasileira. Em 2017, o Decreto 14.473/2017 cria o Comitê Estratégico de Implementação do Building Information Modeling (CE-BIM). Já em 2018, o Decreto 9.377 estabelece, entre outras prioridades, a Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modelling no Brasil – Estratégia BIM BR, para promover um ambiente adequado os investimentos em BIM e sua difusão no País.
A evolução do uso dessa ferramenta está intimamente ligada a um ambiente econômico propício, que se traduz pelo avanço dos empreendimentos públicos, principalmente aqueles de grande porte. Apesar das adversidades, a tecnologia tem sido cada vez mais assimilada pelas corporações brasileiras e tem no governo um aliado importante, que já estabeleceu datas-limite para as metas de implantação do BIM.
Em São Paulo, o Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva) promove, no dia 22 de agosto, o “II Seminário Internacional: a Era BIM”, com especialistas internacionais e nacionais do assunto. Apesar de todas as adversidades enfrentadas até o momento, a utilização do BIM é um caminho sem volta e só trará benefícios para a contratação de obras públicas.
Eduardo Sampaio Nardelli, arquiteto, Vice-Presidente de Arquitetura do Sinaenco-SP (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva) e Prof. Dr. da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie