Boom dos apartamentos pequenos: o que está por trás dessa tendência?

 Por Eduarda Tolentino, sócia e presidente do conselho da BRZ Empreendimentos 

Os imóveis de hoje não são mais como os de antigamente. Enquanto os apartamentos e as casas de nossos pais e avós reuniam diferentes espaços e quartos, agora o conceito é outro. A cada novo empreendimento, é possível notar a diminuição dos espaços e a compactação dos ambientes.
 

E as informações referentes às plantas atuais comprovam isso. Enquanto os imóveis na década de 1970 tinham, em média, 100 metros quadrados, informações do Sindicato de Habitação de São Paulo (Secovi-SP) apresentam um cenário totalmente diferente. Os dados demonstraram que, em 2022, 50,8% dos lançamentos de apartamentos na capital paulista contemplam áreas entre 30 m² e 45 m².
 

Outra evidência interessante que comprova essa transformação é a metragem imobiliária dos lançamentos no interior de São Paulo, que também foi impactada com a diminuição nos últimos anos. Na região interiorana, a média de tamanho dos imóveis é de 45 m², segundo levantamento da Secovi-SP em conjunto com a Brain Inteligência Corporativa.
 

Mas tudo isso tem um porquê. Para a maioria da população que necessita viver em um grande centro urbano, pode doer no bolso adquirir ou alugar um imóvel amplo. A consequência disso? As construtoras passaram a adotar essa tendência nos seus empreendimentos, até para que o preço caiba no bolso dos clientes.

Inflação como catalisadora dos imóveis menores 

Sendo sucinta, a área dos apartamentos diminuiu devido aos custos gerais. Em um cenário pós-pandêmico, com aumento dos custos de construção, retorno da inflação e retomada lenta da economia, o poder de compra brasileiro não acompanhou a alta dos juros. O aumento gradual da inflação entre 2017 e 2022 fez o real perder mais de 30% do seu poder de compra.
 

Assim, aqueles que não deixaram o sonho da casa própria de lado optam por empreendimentos mais em conta para suas finanças. Esse movimento está diretamente ligado à mudança de estratégias das construtoras, que também sofreram com o aumento das taxas de juros. De acordo com estudo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), a Selic nas alturas foi citada como problema por 46,7% dos empresários do setor.
 

Ou seja, a inflação afeta não somente o cliente, mas também as empresas. Enquanto todos os valores subiam, uma das alternativas para manter o preço dos empreendimentos atrativo foi diminuir, gradativamente, os espaços das unidades. Entre os motivos para essa medida acontecer estão o crescimento exponencial dos materiais de construção, o aumento da dificuldade para angariar empréstimos nos bancos e o não acompanhamento do teto de gastos dos programas habitacionais.

Vale citar que o boom dos pequenos apartamentos não é exclusividade brasileira. Esse movimento imobiliário já vem sendo notado há anos em grandes capitais mundiais, como Nova York, Tóquio e Pequim, que também sofrem com a valorização de imóveis centrais, resultando na diminuição de espaços ou na migração das pessoas para áreas periféricas da cidade.

Os apartamentos compactos e o perfil de seus moradores 

Jovens e estudantes. Ao analisar o padrão de moradores dos apartamentos compactos, a grande maioria deles estão no início da vida ou completando os estudos. Com isso, é possível notar uma mudança de comportamento social que também impacta a forma de construir.
 

Entre os públicos-alvo principais dos empreendimentos compactos, é fácil encontrar estudantes, jovens solteiros e casais jovens sem filhos. Isso acontece pelos objetivos diferentes de vida em relação aos seus pais e por dar preferência de investimento para outras coisas, como viagens e estudos.
 

Além desses perfis, é comum encontrar pessoas que desejam morar mais perto do trabalho. Como os apartamentos maiores e com melhor custo-benefício estão localizados em áreas mais distantes dos centros, há quem prefira trocar o conforto de espaços amplos pela facilidade de locomoção. Afinal, o trânsito de uma grande cidade exige tempo e saúde mental de quem precisa enfrentá-lo todos os dias. Esses motivos se unem aos valores que cabem no bolso de cada um.

Apartamentos pequenos e bem-estar: como equilibrar os dois lados 

Ao olhar para um apartamento pequeno, muitas pessoas acreditam que será difícil viver em família em um espaço reduzido. É aí que entra a experiência das construtoras focada no bem-estar dos moradores.
 

Mesmo com unidades menores, existem alternativas que aumentam o conforto das pessoas no todo. Entre elas está apostar em um condomínio completo e bem equipado, com o fortalecimento das áreas de lazer e de convívio. Assim, o investimento em um condomínio completo faz toda a diferença, afinal, espaços amplos ao ar livre e de convívio possibilitam que os moradores se sintam mais em casa.
 

Em condomínios com unidades com metragens menores, é comum encontrar lounges, piscinas, playgrounds, salões de festa, academias, piscinas, brinquedotecas e jardins. Sem falar nos empreendimentos que contam com serviços como mercados internos, vending machines de adega, produtos para pets, farmácia, etc.

Outro ponto bem explorado para tornar os condomínios mais atrativos é a construção de coworkings. Com o crescimento do trabalho em home office, muitas pessoas sentiram a necessidade de procurar um lar maior para conciliar a vida privada e profissional. Com essa tendência, espaços específicos para trabalho nas áreas comuns atraem aqueles que trabalham de casa.

Ainda, morar em um apartamento menor e ter um pet pode soar como um desafio para alguns. A solução para isso está na inclusão de locais especiais para os animais se divertirem dentro do condomínio, trazer facilidades de banho e tosa para os bichinhos semanalmente nos espaços comuns. Não são poucos os empreendimentos que contam com pet places preparados com brinquedos, rampas e mordedores para os bichinhos colocarem toda a energia para fora. Esses espaços contam também com bancos e lugares para os donos, o que incentiva o convívio com os vizinhos.
 

E não podemos deixar de falar daqueles que amam cozinhar. A cozinha em unidades pequenas, muitas vezes, não é equipada com tudo o que um cozinheiro nato gostaria, bem como com espaço para receber amigos e a família. Por isso, os espaços gourmet nos condomínios buscam oferecer uma infraestrutura completa para reunir convidados ao redor de uma mesa farta. Esses ambientes contam com churrasqueiras, fornos de pizza, coifas e bancadas maiores para o preparo dos pratos.
 

Um condomínio bem equipado é benéfico para quem vende e para quem compra. Para os construtores, é a possibilidade de agregar valor à obra como um todo, conseguindo manter o custo de construção previsto nas viabilidades e a competitividade além das altas do mercado. Para os moradores, é a oportunidade de pagar menos na aquisição do imóvel, ter uma boa infraestrutura e se localizar em bons lugares da cidade.
 

A tendência é que esse movimento da preferência por imóveis menores continue, o que influencia ainda mais as construtoras a lançarem projetos que contemplem apartamentos compactos e condomínios amplos, totalmente equipados, decorados e mobiliados.

A economia e a construção andam lado a lado, logo, em caso de melhora ou piora econômica, as mudanças são tidas como certas.