Em 2020, após os efeitos iniciais da pandemia em março e abril, os consumidores voltaram a atenção para suas casas e a demanda por obras e reformas atingiu um alto patamar. O setor conviveu com ajustes em toda a cadeia da construção e se preparou para bons resultados em 2021. A expectativa de crescimento de faturamento para o ano se concretizou, mas foi puxada principalmente por preço e não por volume. Os resultados para o ano, no entanto, são superiores aos patamares pré-pandemia. São essas as conclusões de um compilado de estudos e pesquisas da Juntos Somos Mais, detentora do maior ecossistema de construção civil do país e que aponta também um crescimento de 11% para 2022.
Quando a pandemia mostrou que haveria um impacto no Brasil em abril de 2020, veio uma sensação de extremo pessimismo para indústrias e varejistas da construção civil. O setor foi mais impactado que a média na crise econômica de 2015 e 2016, quando o PIB do Brasil caiu quase 7% e o PIB da construção civil caiu aproximadamente 20% no mesmo período. Por conta disso, a pesquisa Juntos Somos Mais, realizada em abril/20 com as indústrias participantes do seu ecossistema, apontou que 92% indicavam que 2020 seria pior que 2019. No entanto, ao final de 2020, a percepção havia se alterado e 89% indicaram que 2020 foi melhor que 2019. No mesmo passo, também 89% indicaram que 2021 seria melhor do que 2020. À medida que o ano de 2021 se aproxima do final, o otimismo se sustenta e 67% das indústrias indicam que o faturamento em 2021 deve crescer por volta de 20% versus 2020 e o volume em torno de 10% — mostrando que boa parte do crescimento deste ano foi impulsionado por aumentos de preço e não de volume.
A área de Inteligência de Mercado da Juntos Somos Mais, startup de tecnologia fruto de uma joint venture entre Votorantim Cimentos, Gerdau e Tigre, também fez projeções considerando o desempenho do setor na Pesquisa Mensal do Comércio divulgada mensalmente pelo IBGE. “A estimativa é que o setor de materiais de construção termine o ano com crescimento de 5% em volume, mas aumento maior, por volta de 28%, no faturamento devido ao efeito da inflação do setor”, afirma Ivan Ormenesse, responsável pela área na startup. Na comparação 2020 contra o ano anterior, estes indicadores apontam para crescimento de 11% em volume e 17% em faturamento. A diferença entre faturamento total e volume em 2021 é corroborada quando avaliado o Índice Nacional da Construção Civil (INCC) que aponta aumento de 14,3% no acumulado de 12 meses em novembro e 22,1% quando analisado apenas o componente de materiais e equipamentos (desconsiderando serviços).
Em 2020, estudo da Juntos Somos Mais apontou que 75% do crescimento era justificado pelo auxílio emergencial. A redução do auxílio em 2021 juntamente com aumento de inflação e liberação mais ampla do comércio (antes restrito a itens essenciais que incluíam materiais de construção) colaboraram para o crescimento menor no varejo da construção apontado acima. Apesar das reduções, o setor opera em patamares superiores a 2019 conforme ilustrado pelos dados de consumo de cimento de julho a outubro de 2021 que apresentaram um aumento de 17,2% vs. o mesmo período de 2019.
E no segmento imobiliário…
O setor imobiliário, que depois “puxa” o consumo no varejo da construção, tem mantido bons resultados em 2021. De acordo com a ABRAINC, foram vendidas 97,3 mil unidades entre janeiro e agosto de 2021, um número 14,6% maior do que no mesmo período de 2020 e 39,2% maior do que em 2019. Também foram lançadas 78,9% mil unidades, 49,4% mais imóveis do que no mesmo período do ano anterior. O valor total financiado até outubro cresceu 85,4% frente ao mesmo período do ano passado, de acordo com a ABECIP. As construtoras estiveram com níveis de ocupação acima de 70% durante todo ano de 2021, alcançando 76% em outubro, de acordo com o NUCI-FGV.
O cenário macroeconômico com alta da inflação e aumento da taxa de juros, que recém subiu para 9,25% vs 2,00% no auge da pandemia, torna o financiamento de imóveis menos atrativo para o consumidor final e gera mais incertezas para o varejo da construção. Aumentos no custo do gás e dos combustíveis podem seguir pressionando as indústrias a repassarem seus custos adiante na cadeia. O programa Casa Verde e Amarela do Governo Federal tem sofrido com este aumento e as vendas, até setembro de 2021, foram 14% menores do que as do mesmo período de 2020.
E o que esperar de 2022?
Apesar dos ventos contrários e de toda a instabilidade causada pelo período eleitoral, o setor no geral está otimista para 2022: o índice de confiança da FGV, em outubro de 2021, ficou em 96.1, nível mais alto desde fevereiro de 2014. A pesquisa da Juntos Somos Mais com as indústrias participantes no seu ecossistema indica que as indústrias esperam crescimento por volta de 10% em faturamento em 2022, sendo que 38% esperam crescimento maior de 10%, outros 38% esperam crescimento de até 10% e os demais 25% esperam manutenção ou redução de até 10%. Outro estudo realizado com proprietários de lojas de materiais de construção pela Juntos Somos Mais conduzido em novembro de 2021, mostra que 46% das lojas tiveram crescimento no faturamento no ano, sendo que 32% indicaram crescimento de até 20% e outros e 14% crescimento superior à 20%, enquanto 33% reportaram queda no faturamento. Para 2022, o mesmo estudo indica que 76% dos proprietários esperam crescimento, sendo que 22% esperam crescimento acima de 20%, 54% crescimento de até 10% e apenas 8% esperam redução no faturamento.
“Historicamente o setor da construção civil é mais impactado com as instabilidades econômicas do que a economia em geral, e, apesar de em 2021 não ter apresentado o mesmo crescimento que tivemos em 2020, foi um ano positivo. Os números mostram a resiliência de um setor que se adapta rapidamente e consegue crescer mesmo em momentos de adversidade”, aponta Antonio Serrano, CEO da Juntos Somos Mais. Para 2022, a empresa trabalha com números de 11% de crescimento em receita e 2% de crescimento em volume para o varejo de material de construção.