A taxa básica de juros – a Selic – caiu em 2020 a seu menor patamar e os juros dos financiamentos imobiliários acompanharam essa redução, se tornando um dos principais motores do aquecimento do setor no ano passado, apesar da crise provocada pela pandemia. Agora, a preocupação que a retomada do ciclo de alta da Selic também gere repasses para os financiamentos imobiliários já mostra reflexos no comportamento da demanda do consumidor que vem acelerando.
De acordo com dados da Credihome, plataforma de crédito imobiliário multi-banco, o número de contratos no primeiro semestre de 2021 saltou 254% ante igual período do ano passado, gerando um volume de R$ 1,5 bilhão em originação. O montante já é maior que o R$ 1,2 bilhão de todo o ano de 2020. Foram mais de 4 mil contratos firmados no período, sendo 848 apenas no mês de junho, quando a fintech somou R$ 314 milhões em originação – maior volume mensal desde a sua criação, em 2018.
A queda da Selic – e a sequência de anúncios dos bancos repassando essa redução para os juros de financiamento imobiliário fizeram muitas famílias decidirem pela aquisição de imóvel em 2020. Após atingir o menor patamar da história em 2% ao ano, desde de março de 2021, a Selic voltou a subir e, agora, já está em 4,25% a.a. com estimativas de chegar ao final do ano ao redor de 6,5% a.a.
Para Bruno Gama, CEO da Credihome, apesar da retomada do ciclo de alta da Selic, a expectativa é que eventuais repasses para as taxas de financiamento imobiliário sejam graduais e não ultrapassem o intervalo entre 7,5% e 8% ao ano. “Mesmo com algum reajuste, esse ainda é um nível bastante atrativo e não deve ser suficiente para frear a demanda que segue bastante aquecida”, explica.
Desde o início da sua trajetória de queda de juros, os financiamentos imobiliários, que contavam com taxas médias na casa de 11% ao ano em 2016, agora giram em torno de 7% ao ano. “Isso fez com que o sonho da casa própria coubesse no orçamento de muitas famílias, derrubando a prestação do financiamento pela metade”, aponta Gama. “Esse cenário de juros baixos ainda se mantém”.
Entre os motivos que devem sustentar os financiamentos imobiliários com juros ainda em patamares baixos é a competição bancária. O produto se tornou bastante estratégico nos últimos anos para os bancos, sobretudo, pelo potencial de retenção de clientes no longo prazo. Sob o ponto de vista da demanda, fatores comportamentais também vêm motivando a compra por imóveis como a troca do aluguel pela aquisição com a prestação muito próxima do valor do aluguel; a procura por conveniência na pandemia como imóveis maiores ou em outras cidades, além da atratividade do segmento como alternativa de investimento.
A estimativa da Credihome é que o mercado imobiliário cresça entre 40% e 50% em 2021. Já o ritmo de crescimento da fintech deve ser mais robusto, estimando triplicar o total de originação de crédito imobiliário no ano, atingindo os R$ 3 bilhões.