Questões como tempo de entrega e volumes disponíveis por região têm acirrado as negociações e concorrência da commodity
O preço do aço brasileiro seguiu em escalada na primeira semana de maio. Segundo avaliação da S&P Global Platts, a bobina laminada a quente produzida no Brasil, indicador-referência para aços planos, saltou 16,2% na semana, e estava sendo comercializada a R$ 6.855 a tonelada, sem impostos, na sexta-feira (7). O produto, usado pelos setores automotivo, construção e diversas indústrias, acumula alta no ano de 46% e de 130% nos últimos 12 meses.
“Além do custo elevado, questões como tempo de entrega e volumes disponíveis por região têm acirrado as negociações e a concorrência, ampliando a diferença de preços por usina em mais de 20%, segundo fontes do setor”, afirma Adriana Carvalho, editora-chefe da América Latina – Metais da S&P Global Platts.
Para o vergalhão de aço, principal insumo do setor de construção civil, ainda é incerto se um novo aumento irá emplacar em maio, já que grandes construtoras revelaram planos de trazer volumes significativos da Turquia, principal provedor global. Até março de 2021, mais de 70 mil toneladas de vergalhão chegaram aos portos brasileiros, número muito superior aos registrados nos anos anteriores (15 mil toneladas em 2020, 46 mil em 2019 e 35 mil em 2018). O preço do vergalhão brasileiro já foi reajustado em 13,5% neste ano e mais de 100% nos últimos doze meses.
Oferta e Demanda
A demanda aparente por aço no Brasil ultrapassou a produção de mais de 350 mil toneladas em março, o maior diferencial reportado desde o início do monitoramento realizado pelo instituto Aço Brasil.
A produção de aços laminados alcançou a marca de 2,09 milhões de toneladas no mês, comparada a um consumo de 2,44 milhões de toneladas. A última vez em que ocorreu um descompasso desta magnitude, entre oferta e demanda de aço no país, foi em agosto de 2013.
Ainda segundo os dados do instituto, esse descompasso mais recente teve início em junho do ano passado, quando da retomada das atividades do comércio e indústrias pós-período de restrições da pandemia do coronavírus, com apenas dois momentos de leve inflexão – em outubro e dezembro.
Esse fenômeno de oferta restrita e preços em escalada, sem projeções de reversão de tendência no curto prazo, têm impulsionado discussões sobre importações e uma possível remoção de tarifas sobre o aço. No entanto, com notícias recentes da China removendo a devolução fiscal às exportações de aço, e, ao mesmo tempo, reduzindo as tarifas de importação à insumos importantes ao seu processo produtivo, a onda inflacionária ao aço global tomou novas proporções, com o gigante asiático tornando-se um novo “driver” de preços, mas, desta vez, para cima.
“Em resumo, as opções para trazer aço importado ao Brasil também já encareceram. E, ainda que usinas siderúrgicas brasileiras tenham revelado planos de restabelecer projetos de expansão que estavam engavetados, e que estejam operando no máximo de suas capacidades, o tempo que levará para que esses volumes adicionais estejam no mercado não será breve o bastante para reverter o cenário de preços recordes e oferta escassa que se estabeleceu em 2021”, avalia Adriana Carvalho.