Com um primeiro semestre bastante imprevisível, a indústria continua observando com atenção o comportamento do consumo de cimento no país, que se manteve aquecido também no mês de julho.
Apesar de um primeiro trimestre do ano com registro de queda pela demanda do produto em virtude das fortes chuvas de janeiro e fevereiro e do início do isolamento social e das restrições de circulação em março, foi no segundo trimestre que o setor começou a notar a retomada do consumo. O mês de abril, ainda que negativo, teve resultado melhor do que o projetado e um surpreendente crescimento a partir de maio e junho impulsionando os resultados do primeiro semestre. O mês de julho manteve à mesma performance positiva do setor .
O motivo: a autoconstrução (residencial e comercial) e a continuidade de obras do setor imobiliário, as mesmas razões dos últimos meses. Atualmente, esses vetores de consumo respondem por aproximadamente 80% da demanda no país e colaboraram com as vendas do cimento no mercado interno, que atingiram em julho 5,9 milhões de toneladas, um crescimento de 18,9 % em relação ao mesmo mês de 2019 .
No acumulado do ano (janeiro a julho), os números também foram positivos, chegando a 32,9 milhões de toneladas, um aumento de 6,5% comparado ao mesmo período do ano passado. Ao se analisar a venda de cimento por dia útil em julho, 235,6 mil toneladas, a curva também é crescente, com aumento de 2,4% sobre junho deste ano e de 18,6 % em relação ao mesmo mês de 2019.
No caso da autoconstrução, o fato dos lares se transformarem ao mesmo tempo em local de trabalho e de lazer somado ao aumento da permanência das pessoas nesses espaços despertaram a vontade em promoverem pequenas melhorias em suas casas. Em paralelo, aproveitando a paralisação forçada pela pandemia, micro e pequenos empresários também resolveram executar as reformas e manutenções de maior monta em seus estabelecimentos a fim de se prepararem para a retomada das atividades e se adequarem ao novo cenário – conforme demonstram indicadores de vendas de lojas de materiais de construção¹, que seguem com crescimento na casa de dois dígitos há mais de três meses.
Com relação ao mercado imobiliário, a retomada das obras dos empreendimentos imobiliários segue a todo vapor. De acordo com pesquisas do setor², apenas 2,9% das obras permanecem paralisadas e cerca de 63 mil trabalhadores estão ativos nos canteiros de obras de todo país.
“Apesar da preocupação com as incertezas que cercam a construção civil no segundo semestre, principalmente pela ausência de novos lançamentos imobiliários e o aumento do desemprego, enxergamos o desempenho do setor até agora, de forma bastante positiva. Seguimos em uma trajetória ascendente que se iniciou em 2019 depois de quatro anos de queda, uma capacidade ociosa acima dos 45% e fechamento de 20 fábricas e dezenas de fornos acarretando numa brutal queima de capital. Esta recuperação ainda é pouco perto do prejuízo acumulado, mas já enxergamos um novo momento para a indústria do cimento no país”
Paulo Camillo Penna – Presidente do SNIC
INFORMAÇÕES DETALHADAS
PERSPECTIVAS
Um ano cada vez mais incerto
A ausência de novos lançamentos e o baixo nível de estoque de empreendimentos imobiliários no país, somados a ausência de grandes obras de infraestrutura continuam sendo a preocupação do setor e que impede uma visão mais consistente para a indústria até o final do ano.
Será preciso analisar os efeitos da pandemia de COVID-19, da continuidade ou não do benefício de renda extra do Governo Federal, do comportamento dos dados de desemprego que mostram uma preocupante tendência de aumento³, além da confiança de empreendedores e consumidores para ter visão mais clara de toda a situação, principalmente para o último trimestre do ano.
A instituição do Marco Legal do Saneamento e uma aprovação da Reforma Tributária podem abrir caminho para novos investimentos na economia e consequentemente fomentar o consumo de cimento, principalmente em 2021.
De imediato, voltar os olhos aos investimentos em infraestrutura é fundamental para o desenvolvimento econômico do país. Se isso não acontece, faltam empregos, a inflação sobe (como consequência da alta no valor dos itens, puxada pela lei da oferta e da procura) e todas as operações comerciais são prejudicadas. Por isso, é imprescindível que os projetos saiam do papel e as obras sejam retomadas.
Outro ponto relevante está na definição do Governo Federal em relação ao novo programa habitacional. Temos acompanhado de perto e aguardamos com grande expectativa o lançamento do “Casa Verde Amarela” que deverá alavancar com mais força o mercado imobiliário e de reformas, e reiniciar para os próximos dois anos obras de mais de 100 mil unidades habitacionais que até então estão paralisadas.
Todo esse encadeamento precisa acontecer e estar na pauta da agenda do governo, pois além de ser importante para toda a cadeia da construção será vital para alavancar a geração de empregos e renda, no momento que é anunciado um acréscimo do desemprego no país de 12,2% para 13,3% em junho. Somente a indústria do cimento é responsável por mais de 70 mil empregos (para cada emprego direto é gerado 4 indiretos), gera uma renda de R﹩ 26,4 bilhões ao ano e uma arrecadação líquida anual de R﹩ 3 bilhões em tributos.
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