Startup de gestão de cobrança de loteamentos levanta R$ 5 milhões em investimentos

A Hent, startup que fornece uma plataforma digital para gestão automatizada de recebíveis de compra e venda de loteamentos imobiliários, captou mais de R$ 5 milhões em investimentos. 

Criada para donos de loteamentos comerciais administrarem seu negócio de forma simplificada, a tecnologia da startup de Recife (PE) otimiza toda a burocracia dos processos de cobrança dos lotes comercializados pelos proprietários, além de fazer a gestão dos contratos.

Em breve, a Hent começará a oferecer produtos financeiros para os loteadores alavancarem os seus negócios e para os compradores adquirirem terrenos e financiarem a construção de casas.

A captação teve a liderança do fundo brasileiro Canary, com participação de Brian Requarth, co-fundador do VivaReal e chairman do Grupo ZAP, do investidor-anjo Julian Toniol, e do fundo Norte Ventures, clube de investimentos composto somente por founders, como Gabriel Benarrós (co-fundador da Ingresse) e Bruno Nardon (co-fundador da Rappi). 

O dinheiro captado será utilizado para acelerar a expansão da startup, além de viabilizar a contratação de 15 funcionários ainda neste ano. Atualmente, a Hent conta com seis colaboradores.

A Hent foi fundada em Agosto de 2019, por David Aragão (fundador da Motonow, empresa de delivery vendida em 2015 para a Loggi), Leo Pinho (fundador da Kaplen, fintech comprada pelo Itaú em 2015) e Thiago Diniz (fundador da Eventick, startup de eventos adquirida pela Sympla em 2016). Em janeiro deste ano, a proptech passou pela aceleração da Y Combinator, no Vale do Silício, nos Estados Unidos.

Mercado de R$ 500 bilhões

A Hent tem um grande mercado para ser explorado. Segundo uma pesquisa divulgada pelo Secovi-SP (Sindicato da Habitação), a cada ano são aprovados cerca de 400 projetos, com aproximadamente 150 mil novos lotes, somente em São Paulo. Estima-se que o mercado de lotes ativos seja superior a R$ 500 bilhões no Brasil.

“O mercado de loteamentos no país é ainda muito fragmentado e faz pouco uso de tecnologia para tornar os processos mais ágeis. Vemos uma grande oportunidade para a Hent”, afirma Marcos Toledo, cofundador e sócio diretor do fundo de investimento Canary. Ele também destaca a experiência do time de fundadores da proptech como um diferencial. “São líderes que já tiveram experiência anterior à frente de outras empresas e, portanto, são capacitados para superar desafios e atrair bons talentos para ajudá-los nessa empreitada”.

Como funciona

A compra de terrenos costuma ser feita via carnê, com prestações que duram entre 10 e 30 anos. Como boa parte das incorporadoras gerenciam milhares de lotes, fazer a administração dos contratos e cobrança das parcelas exige uma operação complexa, que abrange altos custos de processamento financeiro e operacional com os funcionários do time de cobrança. O modelo de negócio da proptech também ajuda os loteadores a diminuir a inadimplência, que gira entre 18 e 22% no país.

A plataforma da Hent simplifica a gestão de contrato de venda de loteamentos imobiliários, além de emitir e enviar boletos e notificações de cobrança (via e-mail, WhatsApp ou SMS) para os compradores e fazer a conciliação dos pagamentos. 

Hoje, a Hent está administrando pagamentos de 24 mil lotes. “Não concorremos com CRMs ou ERPs, inclusive, já possuímos integrações com muitos ERPs do mercado. Nosso objetivo é automatizar o processo de cobranças, melhorando a eficiência operacional e financeira do loteador”, explica Leo Pinho, CEO e cofundador da Hent. 

Mantendo foco no sistema de cobrança, a startup consegue fazer uma análise de crédito mais assertiva para financiamentos a proprietários e compradores de terrenos.

Crédito para combater o déficit habitacional

Além da tecnologia para otimizar os processos de administração de loteamentos, a startup também começará a oferecer, ainda neste ano, acesso a capital, tanto para as incorporadoras (ou loteadores), como para compradores de lotes. O crédito poderá ser destinado à aquisição de novos terrenos, financiamento de obras e para a construção de casas.

“Mantendo foco no sistema de cobrança, vamos conseguir fazer uma análise de crédito mais assertiva para financiamentos a proprietários e compradores de terrenos”, diz Pinho.

Segundo Pinho,  mesmo com a dificuldade para obtenção de crédito e do cenário econômico atual, existe demanda no mercado imobiliário causada pelo déficit habitacional. É o que mostra um levantamento feito pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV). O estudo aponta que o déficit de moradias cresceu 7% entre os anos de 2007 e 2017, atingindo mais de 7 milhões de unidades habitacionais em 2017. 

“Olhando para o estudo, a conclusão é que seria preciso construir 1,2 milhão de imóveis por ano, para atender à demanda por moradia no país ao longo desta década”, comenta o CEO da Hent. 

Para se ter uma uma ideia, a relação entre crédito imobiliário e PIB no Brasil fica entre 8% e 10%. Nos EUA, essa mesma relação é de 68%. Na Inglaterra, de 75%. No Chile, de 20%. “É inversamente proporcional ao custo do crédito. O custo Brasil é de 12% ao ano, enquanto nos EUA é 5%. Portanto, oferecer crédito é essencial para fazer o mercado de loteamentos crescer e também vamos simplificar isso”, esclarece Pinho.

O cofundador do VivaReal, chairman do Grupo ZAP e investidor da Hent, Brian Requarth, está otimista com o futuro da proptech. “Desde quando fundei o VivaReal, há mais de 10 anos, tenho visto diversas oportunidades no mercado imobiliário. A Hent está desenvolvendo algo que o mercado precisa e estou muito feliz em contribuir com esses experientes empreendedores, reduzindo o déficit habitacional no Brasil e ajudando todos os players da cadeia, desde o loteador até o comprador”, conclui o executivo.