Por Luiz Antonio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc)
Um conjunto de fatores positivos traz confiança para famílias e empresas, desanuviando o ambiente econômico e afastando os temores de desaceleração registrados no início do ano. O mais vistoso entre os fatores que justificam um otimismo responsável é o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que alcançou 1,8% no primeiro trimestre e 0,9% no segundo trimestre, acima das expectativas do Banco Central. O avanço do PIB atingiu 3,4% em 12 meses e é estimado em cerca de 3% neste ano. A alta não se deve apenas ao avanço da agricultura, mas a indicadores favoráveis do setor de serviços e ao consumo das famílias e do governo.
O segundo fator relevante é o comportamento da inflação. O IPCA está na casa dos 4% ao ano e as previsões indicam cerca de 5% em 2023. Um terceiro ponto alto é a aprovação da reforma tributária na Câmara dos Deputados, indicando que será aprovada neste ano. Um quarto indicador é o balanço de pagamentos, com superávit comercial crescente e a volta da captação de recursos no exterior pelas empresas brasileiras, que pagam taxas menores do que as praticadas no início do ano.
Nem tudo justifica otimismo, ressalve-se. O crescimento da China declinou e os juros seguirão elevados nos Estados Unidos, onde a inflação cai menos do que o esperado após a política monetária apertada, bem como na Europa. Como resultado, a atividade econômica global deverá ser mais fraca, com impacto negativo para o Brasil. Ao mesmo tempo, preços mais altos do petróleo podem trazer algum impacto inflacionário interno. As pressões externas continuarão fortes, inclusive como efeito da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
No Brasil, um dos maiores desafios é aumentar a produtividade do trabalho, pois os investimentos em educação trazem pouco resultado e é insuficiente a abertura da economia, tolhendo a competição nos mercados domésticos. Além disso, a dificuldade de cumprir as metas do arcabouço fiscal será enorme, dado o aumento das despesas públicas sem a contrapartida de cortes de gastos. É louvável a intenção do governo de ampliar os investimentos públicos com maior participação do setor privado, com ênfase na infraestrutura, mas haverá limitações orçamentárias. Uma nova rodada de ajuste da Previdência Social deverá entrar no radar, ao lado de uma reforma administrativa que permita ampliar a eficiência dos serviços públicos e reduzir custos com os salários mais elevados, como defende o ministro da Fazenda.
Em contrapartida, os mercados internos têm exibido um bom ritmo. O mercado de trabalho está aquecido, o desemprego é baixo e o PIB per capita atingiu valor recorde no segundo trimestre de 2023, superando o do primeiro trimestre de 2014, antes da recessão do período Dilma Rousseff. A massa real de salários cresceu 0,7% em junho e 0,5% em julho. O aumento da renda dos trabalhadores permitirá maior crescimento econômico com melhora dos indicadores sociais. Para essa melhora vai contribuir a diminuição do ritmo de aumento populacional.
Com a política econômica em vigor, o Brasil tem condições favoráveis para preservar a confiança de investidores internos e externos e seguir políticas macroeconômicas equilibradas. Para isso, o investimento será essencial, com a contribuição decisiva da incorporação imobiliária.
A construção civil já se beneficia da ênfase oficial ao programa Minha Casa Minha Vida (MCVM). Entre janeiro e julho de 2023, foi contratada a produção de 253 mil unidades, 24% mais do que em igual período de 2022. O ambiente favorável aos negócios do setor permitiu às construtoras fazer três follow-ons na B3, em 2023, com a captação de R$ 1,7 bilhão. Para os mutuários de renda média, a redução das taxas dos empréstimos até o patamar de um dígito da taxa Selic será crucial. Isso ampliará a capacidade dos consumidores de tomar crédito.
Cabe notar que apesar do juro alto, a construção civil, que responde por cerca da metade da Formação Bruta de Capital Fixo, aumentou em 0,7% seus investimentos no segundo trimestre, depois de dois trimestres de declínio. É um bom sinal do vigor da atividade, cujo papel é decisivo para o crescimento do País e o bem estar das famílias.