A partir de janeiro de 2021, por meio do Decreto nº 10.306, entra em vigor a exigência do Governo Federal para que obras públicas de arquitetura e engenharia no Brasil contem com a tecnologia BIM (em inglês Building Information Modelling, ou Modelagem da Informação da Construção). O uso do modelo, aplicável em todas as etapas da obra, pode reduzir os custos totais em 9,7% e os custos com insumos em até 20%.
Mesmo nas empresas privadas do setor que não atuam em amplas concorrências de obras públicas, o BIM também é um objetivo traçado. Apesar de aumentar em cerca de 10% a produtividade das empresas de construção civil, a tecnologia ainda tem presença incipiente no mercado nacional. Somente 9,2% das companhias do setor haviam implantado o BIM em sua rotina de trabalho, de acordo com pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o exercício de 2018.
Para Sonia Keiko, vice-presidente de Novos Negócios e Inovação da Engemon, grupo brasileiro de Engenharia, Construção e Tecnologia, o uso do BIM é especialmente relevante no contexto de empresas que atuam em todas as etapas dos projetos.
“É um diferencial competitivo, pois permite utilizar o BIM para gerar eficiência e assertividade em todas as fases do projeto. Isso naturalmente irá gerar diferentes índices de economia em cada uma das etapas, ampliando a competitividade das empresas que contemplam o uso desta tecnologia aumentando a sua entrega de valor aos clientes”, explica a executiva da Engemon, empresa que conta com o BIM em suas maiores obras.
Como o BIM funciona?
Seja no setor público ou no privado, o BIM permite antecipar conflitos que naturalmente ocorrem em projetos de ampla execução. Ao adotar modelos em 3D ou 4D para antecipar as estruturas da obra em diversas frentes (elétrica, hidráulica, segurança, entre outras), a tecnologia pode reduzir a quantidade de insumos necessários nas obras, bem como possíveis problemas decorrentes da concorrência por espaços nas estruturas. Quanto antes esses problemas são diagnosticados, mais eficientes e assertivas serão as respostas dadas pelas empresas que atuam nas obras.
“Na Engenharia falamos de espaços confinados e é comum que haja conflitos entre as frentes de trabalho. O BIM é capaz de gerar uma quantidade relevante de dados em um momento no qual os ajustes ainda não trarão um sensível prejuízo para serem contornados. Isso faz muita diferença não só nos custos das obras, mas também no cumprimento dos cronogramas dos projetos. Se você não é ‘pego de surpresa’, não é necessário dedicar um amplo tempo aos ajustes. Muitas vezes, sequer é necessário paralisar alguma etapa das obras”, avalia Guilherme Valente, gerente da GV BIM, empresa especializada na tecnologia e parceira de negócios da Engemon.
Valente destaca também que a tecnologia poderá gerar outros benefícios se associada a ferramentas que não ainda não são exigidas nos contratos públicos, por exemplo.
“O BIM gera a informação de todos os elementos de uma obra. Com isso, posso conectar a tecnologia a um serviço de análise de negócios, por exemplo, para monitorar o projeto em tempo real em todas as suas frentes. Posso também associar os processos de compras com o BIM, permitindo que eu tenha um controle muito mais efetivo do que é utilizado no dia a dia do projeto. Isso já seria essencial no mercado privado, mas, se adotado no setor público, é capaz de amplificar o atendimento a pilares como transparência, eficiência e publicidade”, completa.
O que muda para as empresas?
O Decreto nº 10.036 determina a utilização do BIM na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia que são realizados por órgãos e pelas entidades da administração pública federal. O projeto é dividido em três fases:
1ª fase: focada em projetos de arquitetura e de engenharia para construção novas, ampliações ou reabilitações, quando consideradas de grande relevância para a disseminação do BIM. A proposta é utilizar a tecnologia nas disciplinas de estrutura, hidráulica, AVAC (aquecimento, ventilação e ar-condicionado) e elétrica, na detecção de interferências e na revisão dos modelos de arquitetura e de engenharia, na extração de quantitativos e na geração de documentação gráfica, a partir desses modelos.
2ª fase: a partir de janeiro de 2024, prevê a inclusão do BIM na execução direta ou indireta de projetos de arquitetura e de engenharia e também em obras, referentes a construções novas, reformas, ampliações reabilitações. Esta fase também considera as disciplinas de orçamentação e planejamento da execução de obras, bem como de atualização do modelo e de suas informações como construído.
3º fase: a partir de janeiro de 2028, prevê a aplicação do BIM em todas as disciplinas previstas nas fases anteriores e também nos serviços de gerenciamento e de manutenção do empreendimento após sua construção, em projetos que tenham sido realizados ou executados anteriormente com aplicação da tecnologia.
A executiva da Engemon ressalta, no entanto, que a simples adoção desta tecnologia não garante os índices de economia previstos. Isso porque é necessária a correta utilização do sistema, de modo a extrair dele os melhores e mais eficientes recursos.
“Dependendo da forma como for utilizado, o BIM permitirá o monitoramento da edificação de modo a identificar preditiva e preventivamente desvios em suas operações. Assim, será possível controlar assertivamente o ciclo de vida dos sistemas, dos aparelhos e monitorar os sensores em tempo real para verificar qualquer alteração no dia a dia. Quanto mais tecnologia embarcada, mais rapidamente a informação será capturada e analisada. O BIM permite esse cenário de forma eficiente, desde que exista na operação profissionais aptos a extraírem o melhor da tecnologia”, explica Sonia.
“Utilizar o BIM não significa simplesmente ‘girar um botão’. É preciso conhecimento das ferramentas e das possibilidades por elas geradas. Quanto maior for esse conhecimento, maiores serão as possibilidades de atingir índices mais alto de economia, produtividade e assertividade”, conclui Valente.