Construção civil e mercado imobiliário estão preparados para enfrentar a crise

Por Clovis Bohrer Filho, fundador da Bohrer Arquitetura

Após a crise econômica, era esperada uma retomada do crescimento do setor da construção civil no segundo semestre de 2019. As incorporadoras já estavam se preparando para este aquecimento, com redução de estoques, aquisição de terrenos e planos para acelerar os lançamentos. 

Porém, a epidemia de Covid-19 interrompeu este cenário e trouxe muitas incertezas. Não é possível saber com certeza quais as próximas perspectivas para os mercados imobiliário e de construção civil. Os desafios são muito grandes e vão desde a gestão financeira das empresas até às mudanças de comportamento e renda dos consumidores. 

Por outro lado, percebo que a maioria das construtoras e incorporadoras do estado do país está com o “caixa” equilibrado, com boa liquidez financeira, fruto do controle gerado pelos vários anos de crise. Além disso, houve um aumento da produtividade do setor no estado, devido aos investimentos feitos há algum tempo nos processos de planejamento e execução dos empreendimentos. 

As incorporadoras e construtoras passaram a perceber as mudanças que podem ocorrer tanto nos produtos imobiliários como nos perfis dos clientes, elas estão atentas ao “novo normal”. Exemplo disso são os investimentos em novas ferramentas de comunicação com o mercado, como infraestrutura digital, realidade aumentada, tour virtual nos apartamento decorados, atendimento remoto, entre tantas outras novidades. Para se ter uma ideia, segundo pesquisa realizada pela Central de Registradores de Imóveis do Paraná, gerida pela Aripar – Associação dos Registradores de Imóveis do Paraná, houve um crescimento de 600% na quantidade de contratos de imóveis protocolados de forma virtual nos meses de fevereiro a abril. 

As transformações puderam ser percebidas logo no primeiro dia de isolamento. A maioria das empresas adotou o home office, fazendo com que as pessoas passassem muito mais tempo em suas casas. Isso gera uma mudança de percepção, com muitos passando a valorizar mais suas moradias, tendo desejos de fazer transformações, tornar os lares mais agradáveis e adaptados ao trabalho remoto. Esta mudança de postura deve ser analisada cuidadosamente pelas empresas. Os consumidores passarão a interpretar com criatividade as novas necessidades de suas casas. 

Outro ponto que me faz ser otimista é a excelente sinergia demonstrada por todos os segmentos doconstrubusiness, incluindo projetistas, fornecedores, construtores, e agentes de crédito. Toda a cadeia produtiva está trabalhando em conjunto e buscando medidas que atenuem essa crise. 

Além do preparo demonstrado pelo setor, algumas outras questões do mercado e da economia dão sinais positivos para o futuro. A baixa taxa de juros traz uma significativa redução das parcelas em financiamentos de longo prazo, encorajando os consumidores a investir em imóveis. Este momento de pausa pode ter gerado um represamento das negociações, que poderão ser retomadas com o fim da quarentena e a volta à “vida normal”. De acordo com levantamento da ADIT Brasil – Associação Para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil, 55% das pessoas mantém a vontade de comprar um imóvel próprio, apesar do cenário controverso. 

Uma questão fundamental para este momento foi a inclusão da construção civil nos serviços essenciais, o que permitiu a continuidade das obras, evitando atrasos em entregas de projetos, abandono de obras e perda de empregos. A relevância da atividade é percebida pelos gestores da economia, já que é responsável por uma fatia significativa – entre 8 e 10% – do PIB brasileiro, além de ser uma importante geradora de empregos. 

Na Bohrer, estamos trabalhando com 18 projetos imobiliários. Os prazos de entrega das obras foram mantidos, elas continuam, com as equipes operando seguindo os protocolos de segurança. Estamos focados nas nossas atividades em home office, toda a equipe se encontra trabalhando full time de forma remota. 

Sendo assim, diante do cenário atual, acredito que a recuperação pós-pandemia será menos traumática e mais rápida se as empresas e os gestores econômicos tiverem a capacidade de interpretar as dificuldades e fazer o diagnóstico correto da situação econômica que certamente virá após a Covid-19. É preciso analisar as incertezas, tomar ações cautelosas e muito bem-pensadas. Se agirmos assim, 2021 pode nos surpreender positivamente com a retomada.